quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

De Mazouco a Freixo de Espada à Cinta

Andarilho

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Para quem viaje por terras de Trás-os-Montes e Alto Douro e se acerque aos concelhos de Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta, e por meríssimo acaso dê de caras com este blogue, peço-lhe que considere este relato na escolha de um trajecto para passeio de automóvel. E se de bicicleta, ainda melhor.
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O percurso que noventa e muitos por cento dos passeantes toma quando passa por estas terras raianas é, se na direcção Torre de Moncorvo - Freixo, a estrada N220 e N221, ou por ordem inversa em direcção contrária. Pois calhou que, quando em Agosto de 1999 passei por estas terras durienses, talvez, ou quase por certo, inspirado pelo sublime repasto no restaurante O Artur, em Carviçais (e que merecerá por si só um relato neste blogue), o ânimo me desviasse da N221 para a estrada municipal que nos leva a Mazouco. Trajecto durante o qual tirei a fotografia que introduz este post.
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Acontece que não terá sido apenas Baco e a vinhaça do Artur que me desviaram da N221. Alguns anos antes tinha lido no Boletim (revista da Universidade do Porto) um conjunto de artigos sobre as gravuras rupestres de Foz Côa, em que se referia o Cavalo do Mazouco como a primeira das gravuras do Paleolítico Superior ao ar livre conhecida em Portugal. Daí que, ao deparar-me com a placa rodoviária de desvio para Mazouco, tudo se conjugou para que se fizesse luz.
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A aldeia de Mazouco está inserida no Parque Natural do Douro Internacional. A sua pacatez reflecte o isolamento a que esta zona do país (felizmente?) está votada. Ao entrar na aldeia, lembro-me de não ver quase ninguém nas ruas íngremes e estreitas. Também talvez porque, ali tão próxima, os seus habitantes tenham adoptado o maravilhoso hábito da sesta da vizinha Espanha.
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Foi-me fácil chegar ao núcleo de gravuras rupestres, seguindo um desvio até ao rio. A água, a poucos metros, apresentava uma cor escura, verde acinzentada. De imediato me chocou o facto de a parede xistosa do núcleo estar vandalizada com grafitos de adolescentes apaixonados, sem qualquer protecção. Felizmente que a gravura principal, a que os locais chamam de Carneiro (mas que os especialistas identificam como um cavalo) estava incólome. Segundo soube depois, dizem haver um tesouro escondido no local para onde o dito bicho está a olhar, o outro lado do rio:
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Mas o melhor ainda estava para vir: ao arrepiar caminho para voltar à aldeia, deparei com uma estrada em terra batida (estará hoje asfaltada?), à esquerda, direcção sul. Não me apeteceu subir as ruas íngremes e estreitas de Mazouco, pelo que resolvi tomá-la, sabendo que todos os caminhos levam a algum lado - e por que não a Freixo de Espada à Cinta?

A verdade é que não me lembro de alguma vez ter percorrido um troço de estrada ou caminho em que me tenha sentido tão em comunhão com o mundo. Percorridas poucas centenas de metros, parei. Sentia o meu Micra a mais naquele espaço natural. Desliguei-o e caminhei um pouco a pé. O silêncio era intenso, tirando o restolhar da brisa ligeira nas árvores que cresciam junto ao rio (oliveiras, cerejeiras e choupos, creio). O sol de verão aconchegava a alma. Viam-se alguns barcos ancorados num pequeno braço de rio. Apenas uma casa ou outra, sem ninguém que se visse poder estar a habitá-las. Disse para mim que, se pudesse, construiria ali uma casa pequenina para poder desfrutar do paraíso alguns dias por ano...

Retomei a viagem, lentamente. A estrada afastou-se do rio - e o sentimento de plenitude com ela. Cheguei a Freixo de Espada à Cinta... Realizado.

Notas:

Mapa retirado (e adaptado) de http://www.mapquest.com

O Boletim a que fiz referência é o nº 25, de Junho de 1995

13 comentários:

Anónimo disse...

Mazouco, a minha terrinha, foi um prazer ouvir falar tao bem dela, a estrada já está alcatroada e as ditas cerejeiras, sao amendoeiras.
um abraço.

MANHENTE disse...

Olá, amigo/a (?)!

Obrigado pelo teu comentário. É bom saber que o que escrevi "tocou" em alguém. Tens toda a razão em sentir orgulho da tua terra. Creio que haverá um tempo em que se valorizará mais a pacatez destes locais tão bonitos.

Certamente voltarei lá um dia - e não só para ver as amendoeiras! A memória não chega para tudo :-).

Espero que também voltes a visitar o meu blogue, nem que seja muito de vez em quando.

Um abraço,
Rui

Unknown disse...

ola amigo

bem haja pelo seu comentario a mazouco.
os meus avos e pais eram de mazouco.
adoro mazouco um abraço antonio santos

MANHENTE disse...

Caro António:

Muito obrigado pela visita. Tem toda a razão em adorar Mazouco. Precisamos de gente que queira bem a estes lugares (especialmente estes, tão belos), quase abandonados, e que respeite a memória dos seus antepassados.

Um abraço,
Rui

Anónimo disse...

Olá eu sou um mazouqueiro e gosto muito desta terra maravilhosa.
visite este site de mazouco

http://mazouco.no.sapo.pt/

http://mazouco.forumvila.com/mazouco.html
Visite o Forum Mazouco e encontre pessoas de Mazouco que já não vê a muitos anos.Deixe sua opinião.

Anónimo disse...

Amo esta Aldeia sem conhece-la, nela nasceu alguém lindo que amo muito, e um dia irei pisar nesta terra linda e pescar neste rio dourado,ao lado da pessoa que amo tanto!

Anónimo disse...

Considero-me Mazouqueira e gostei muito da descrição que fez desse belo passeio. Só quem lá passa percebe as suas palavras! Espero que repita o passeio! Cumprimentos

MANHENTE disse...

Muito obrigado pela visita, Ana! E pelas suas palavras.

Ainda não voltei a Mazouco. Mas não perde por esperar!

Tudo de bom para si e para os mazouqueiros!

fernando disse...

ja estive em mazouco ha cerca de 20 anos num intercambio e um espetaculo nessa altura o padeiro ia de 15 em 15 dias, por essa razao muitas pessoas fabricavao pao propio em suas casas, e a luz publica apagava-se ha 1 hora da madrugada era um espetaculo!tambem podes descer o monte e ir ate ao rio onde podes dar uns banhos e apreciar a paisagem.

Leonor disse...

Olá,é muito bom ler comentários tão bem escritos e bonitos, sou de Mazouco e vivo em Mazouco e numa coisa não estou de acordo, o que se percebe por (pacatez)um lugar onde se tem a calma para poder ouvir os passarinhos a cantar no lugar de carros a buzinar o tempo todo,não temos cafés,cinemas ou teatros e isso que importa,com internet, televisão por satélite,os que se quiserem, quem precisa de mais?? e a calma para ler livros
tudo de bom para quem gosta de MAZOUCO

MANHENTE disse...

Olá, Leonor!

Terá interpretado mal o tom do meu texto nesse ponto.

Não poderia estar mais de acordo consigo: viver no "campo" é um privilégio!

Obrigado pela visita!

Rui

Sara Santos disse...

Ola boa noite a todas as pessoas de Mazouco. Eu ja conheco Mazouco des que era bebe. Eu adora a aldeia e tenho muitas saudades de ir ai. Tambem tenho saudades da minha familia que tai, principalmente os meus avós Etelvina e Francisco Araújo e tambem o meu maninho que tai a passar ferias... Este ano nao vou ai porque o meu marido nao tem ferias... Fica para a proxima... Beijos para todos.

Anónimo disse...

E lindo o que escrevem desta aldeia e pena que nao digam que todos fogem de la , porque? porque para quem la vai passar ferias depressa se enchem de regimes ainda do tempo do salazar praticado por alguns que nada suportam