sábado, 31 de março de 2007

Fim da Corrupção colocaria Portugal ao Nível da Finlândia

Palavra Esparsa
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Hoje, na TSF, ouvi alguém referir um estudo que indica este dado absolutamente revelador: Portugal teria um desenvolvimento ao nível do da Finlândia se conseguisse diminuir a corrupção. Uma busca rápida no google esclareceu-me as dúvidas: Daniel Kaufmann, director dos Programas Globais do Instituto do Banco Mundial, apresenta esta tese num artigo publicado na revista trimestral do Fundo Monetário Internacional, «Finance and Development» (Agosto de 2005).
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E hoje, também, soube-se que não há ninguém preso por corrupção política em Portugal!
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Quem é responsável por este estado de coisas?
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Todos sabemos: o preço do petróleo, a Função Pública, os professores, os Serviços de Atendimento Permanente, as maternidades, a seca, as inundações, os benfiquistas, as varinas da Póvoa, a vinhaça, a D. Clementina de Colo de Pito, em Castro Daire, as ratazanas do Convento de Mafra...
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Sócrates

Palavra Esparsa
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24 séculos depois, esgrime-se um diploma universitário. Convenhamos: é bem mais refinado que um chá de cicuta. Será que o nosso Primeiro o engolirá em seco?
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sexta-feira, 30 de março de 2007

Ovos de Páscoa, Sra. Ministra!

Pérola Negra
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"Foi uma brincadeira com ovos cozidos do pequeno almoço..."
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Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Campos de Melo, Covilhã, a propósito dos incidentes num hotel de Lloret del Mar, na Catalunha, que culminaram com a "repatriação" de algumas dezenas de estudantes portugueses do ensino secundário.
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Não diz tudo; pode ser um exemplo isolado (será? - eu já prometi a mim mesmo não acompanhar visitas de estudo com pernoita em Pousadas da Juventude, por exemplo), não se passou em território nacional...
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Mas a natureza sublime do conteúdo da frase diz tudo. Que omoletes, Sra. Ministra, que omoletes podemos nós fazer com estes ovos...?
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quinta-feira, 29 de março de 2007

Correspondentes

Da Memória
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México, Luxemburgo, Brasil, Irlanda e Argentina. Têm 20 anos estes embaixadores da minha adolescência, recuperados recentemente de um caixote vindo de casa da minha mãe. Julgava que já me tinha separado de todas as cartas dos correspondentes que, num período de meia dúzia de anos, tive pelos cinco cantos do mundo: Hong Kong, Nova Zelândia, Egipto, Moçambique, Malásia, E.U.A... Creio que cheguei a ter mais de 40 pen-friends - o nome internacional da altura (agora substituído por e-pals) - em cerca de 25 países!!! Já seria o bichinho pelas línguas e das viagens...

Ao pegar nestes envelopes para os digitalizar, senti o perfume com que a luxemburguesa Simone borrifava o papel de carta. Que sensação fantástica! São estas coisas que arrastam a nossa memória para recantos do esquecimento e nos enlevam pela redescoberta de momentos em que fomos muito felizes.

Recordo-me de regressar a casa, das aulas, para almoçar, com o coração em aceleração progressiva ao aproximar-me da entrada do prédio em que vivia; o momento de êxtase que me assaltava quando, ao espreitar pela ranhura de vidro da caixa de correio, detectava as bordas verdes e amarelas dos envelopes dos meus correspondentes brasileiros. Podem não acreditar, mas cheiravam aos trópicos, a uma terra diferente. Corria pelas escadas acima a toda a velocidade para ir buscar a chave do correio; a minha mãe resmungava comigo, com essa doideira: quero ver as tuas notas! - quando me queria castigar escondia-me as cartas até à noite, ou até um dia seguinte se sabia que tinha testes. E os postais maravilhosos que me mandavam - enchiam-me a alma!

Esta é a primeira página de uma carta da mexicana Dolores, em vésperas do Mundial de futebol do México, há 21 anos. O mínimo que vos poderá acontecer é esboçar um sorriso...

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terça-feira, 27 de março de 2007

Sardinha da Pequenina n'O Assador Típico

Aqui Bem Se Come!
Guia para o bom garfo e a carteira leve
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Hoje almoçei no Porto. Novamente. Tive que levar o meu sogro a fazer um exame ao S. António e como, para não variar, este - o exame - se atrasou e a fominha já apertava, abancámos n'O Assador Típico, ao lado do Museu Soares dos Reis. E como já aconteceu noutras ocasiões desde os meus tempos de Faculdade, saí dali de bem com a vida.
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Fui pelas sardinhinhas fritas com arroz solto de feijão vermelho. Este vinha servido num daqueles tachos em ferro fundido, pesadão, feio. Disse para mim: isto dá para um regimento. Servi-me 6 vezes! Pouco sobrou. As filhinhas do mar estavam que nem vos digo. Não é a primeira vez que lhes chamo um figo, aqui, n'O Assador Típico; da última vez, há uns anos, vinham amantizadas com um fabuloso arrozinho de grelos. Ahhh, ainda há quem fique chocado quando digo que nada se compara a uma boa mesa...
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Os meus sogros foram para o rabo de boi, acompanhado de puré de batata e legumes. Quase não falaram, a não ser para dizerem que estava tenrinho. Bem se vê. Bebemos um Meia Encosta 2003, que se portou muito bem. Para a mesa também vieram umas azeitonas graúdas amargas, daquelas que a minha mãe diz serem das boas. A minha sogra, a gulosa, mamou-as quase todas. E fez muito bem!
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Sem sobremesa e café, que só viriam estragar a memória do festim, deixámos 21 euros e 65 cêntimos. Três pessoas!
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Encontram O Assador Típico na Rua D. Manuel II, no centro do Porto, junto ao Hospital S. António, ao Museu Soares dos Reis, à Reitoria da Universidade do Porto e ao Palácio de Cristal. Bom gosto na decoração, simples e sóbria: paredes em pedra com painéis de azulejos tradicionais, tectos de madeira, relógios de pêndulo antigos e alguma loiça tradicional. Serviço prestável e eficaz.
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À mesa: A São, o Toni e o Viandante
Avaliação: 9/10
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segunda-feira, 26 de março de 2007

Aventura Brilhante

As Viagens dos Outros

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Porque é de justiça fazê-lo, remeto-vos para o site & blogue de um português fora do comum, arrojado, aventureiro; um daqueles homens que tem a coragem de abandonar tudo (ou será que devia dizer: "amar tudo") e partir para a realização de um sonho. Um sonho para a vida, realizado em grandes etapas. Neste momento, estará a pedalar o quilómetro quinze mil e tantos de um desses capítulos da sua vida de aventuras velocipédicas e afins: Uma Viagem pela Estrada Pan Americana, do Alasca polar à Terra do Fogo - 25.ooo quilómetros, coisa pouca.
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Está tudo lá. Leiam. Vejam. Garanto-vos que é necessária, também da nossa parte, alguma coragem: a de lermos sobre aquilo que gostaríamos de ter feito e não fizemos.
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Chama-se, apropriadamente, Nuno Brilhante.
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domingo, 25 de março de 2007

Pecados Íntimos, de Todd Field

Palavra Esparsa
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O que é um bom filme? Pergunta difícil; muitas respostas possíveis. Mas acredito que uma película capaz de convocar os nossos sentidos, a nossa razão e múltiplas emoções ao ponto de nos "enervar", de nos deixar incomodados, é necessariamente um bom filme. Little Children (Pecados Íntimos) é um filme excelente.
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Feito Notável do Râguebi Nacional

Palavra Esparsa
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O Portugal-Bélgica de ontem fez-me esquecer o feito notável que tinha acabado de presenciar meia hora antes. Penitencio-me pelo facto - que terá também passado despercebido à maioria por ser transmitido em canal codificado. A selecção de râguebi de Portugal apurou-se para o Mundial da modalidade num jogo heróico realizado no Uruguai. Quem viu o jogo só pode estar orgulhoso da raça colocada em campo. Por que é notável? Porque é a primeira vez que uma selecção amadora consegue tal desiderato. Amadora - homens comuns, que trabalham para ganhar a vida (com excepção de dois ou 3 jogadores, que são profissionais em equipas estrangeiras) ou são estudantes. Um feito notável, dos maiores do Portugal desportivo dos últimos anos.
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sábado, 24 de março de 2007

Temos Selecção

Palavra Esparsa
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Tenho confidenciado com os meus amigos amantes da bola que temos selecção para limpar o título mundial daqui a pouco mais de três anos (e quem sabe o Europeu!), haja uma pontinha de sorte. O tempo necessário para o amadurecimento psicológico de alguns jogadores e o estabelecimento das rotinas necessárias ao verdadeiro jogo de equipa. Faltar-nos-á um defesa esquerdo de raiz e um matador, sem desprimor para o Paulo Ferreira ou para o Nuno Gomes. Veja-se: o Ricardo está como o Vinho do Porto e o Quim é um suplente de luxo; o Miguel será um dos três melhores defesas laterais do mundo; os dois centrais jogam juntos há anos e o Fernando Meira provou no mundial da Alemanha estar à altura da posição; o Petit é grande; o João Moutinho vai ser ainda melhor que o Maniche; o Tiago terá que ganhar confiança e um pouco mais de velocidade; o Deco, a continuar lento como no mundial passado, até poderá ficar no banco - que luxo!; e depois, que selecção do mundo se pode gabar de ter 4 pontas como o Cristiano Ronaldo, o Quaresma, o Nani e o Simão? O Hugo Almeida ainda nos vai ajudar.
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Esperemos que o Sargentão queira ficar até lá. Duvido que não queira, com esta matéria prima. Caso contrário, também não nos faltam bons treinadores.
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A eles!
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All-to Minho

Palavra Esparsa
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Excelentíssimo Sr. Ministro da Economia,
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Venho por este meio sugerir-lhe a corrupção de mais um topónimo para promoção de uma das mais belas regiões de Portugal (se não a mais bella):
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All-to Minho
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Se achar de interesse, tenha a bondade de me contactar para determinação dos meus royalties. Para que conste, salvarguadarei sempre a minha não responsabilidade por uma eventual massificação do turismo na referida região.
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Com os melhores cumprimentos,
Viandante
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Nota: carta inspirada num post do Pedro Correia, no Corta-fitas.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Estudar em Vannes, Bretanha

Andarilho
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A Bretanha assombra o meu imaginário desde a minha adolescência. Mais cedo ou mais tarde, teria que lá dar um saltinho. Talvez fosse a origem celta do povo bretão que tenha ajudado a construir este sentimento de comunhão que me acompanha há pelo menos duas décadas e meia; e que já me levou à Escócia, à Irlanda e ao País de Gales; e que em última instância me trouxe para o Alto Minho. Por outro lado, talvez seja, afinal, apenas um impulso carnal: o apelo ao vislumbre de um par de olhos azuis provocadores, assertivos, numa tez corada. Talvez.
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O facto é que só há três meses atrás realizei esse desejo. Em finais do outono, pelo que os postais que aqui vêem estão muito para além da atmosfera húmida e sombria com que me recebeu a cidade de Vannes. O que, aliás, seria de esperar. Mas das pessoas não tive surpresas: de uma afabilidade extrema, orgulhosas das suas raízes, apaixonadas pelo mar. Simples, como eu gosto.
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A oportunidade de aqui vir surgiu por mero acaso: uma colega de escola candidatou-se a uma Visita Preparatória para delinear e desenvolver um projecto escolar (Programa Comenius) no âmbito do ensino das línguas estrangeiras e do uso das novas tecnologias. Por motivos inesperados, acabou por não poder ir e convidou-me para a substituir. Ora nem mais: ala que se faz tarde!
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Foi uma experiência inesquecível! Pela qual todos os agentes da educação deveriam passar: ter a oportunidade de contactar com outras realidades e práticas educativas; comparar, relativizar, valorizar o que temos de bom e questionar o que está mal.
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Em resumo (numa comparação necessariamente limitada, pois há multiplas realidades em ambos os países), o que temos de bom: uma relação profissional muito mais informal, próxima, menos protocolar; maior liberdade na implementação do nosso trabalho. Só. E o café da manhã.
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O que está menos bem: inexistência de uma cultura escolar de esforço e de mérito; não valorização de áreas vocacionais ou de interesse dos jovens; pouca responsabilização e fraca promoção da autonomia dos alunos; pouca articulação do trabalho entre professores das mesmas áreas curriculares...Ahhh! Quase me esquecia: para um docente com 12-15 anos de serviço, uma diferença salarial mensal que pode chegar aos 700-800 euros. A menos, claro. Só!
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De Vannes, retive a beleza das casas históricas em madeira, a imponência dos tanques públicos junto às muralhas do castelo, o travo da cidra na Crêperie Dan Ewen, a promessa das águas do Golfe de Morbihan, a amabilidade das pessoas... E, claro, mais importante ainda, os momentos fantásticos que passei com a Anne, a Esther e a Annick (na foto, com o je e o Mr Thomas, o Director do Collège St François Xavier) e que, seja o projecto aprovado, terei a felicidade de encontrar novamente:
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Acaso passem por esta bela cidade bretã e disponham de um orçamento modesto, devem colocar como hipótese a estada no Hôtel Le Bretagne, gerido por um casal jovem e extremamente simpático. Decoração e mobiliário antiquado, mas acolhedor.
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quarta-feira, 21 de março de 2007

Sentinela

Instantes
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Fevereiro de 2004

Meixide, Montalegre

segunda-feira, 19 de março de 2007

O Benfica de Fernando Santos

Palavra Esparsa
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Correndo o risco de enfadar mais alguns dos meu eventuais leitores, volto ao maravilhoso mundo da redondinha. E mais uma vez para defender o tão discutido treinador do Glorioso: o engenheiro Fernando Santos.
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Como já afirmei num comentário anterior, o mister do Benfica não será o melhor treinador do mundo. Mas é um bom homem, seja o que isso for. Transmite confiança; é daquelas pessoas a quem compraríamos um carro em segunda mão. E prefiro um treinador bom e respeitável a um muito bom e enjoativo. Para além disso, constato (muitos discordarão, obviamente) que está a construir uma equipa como há muitos anos não via para os lados da Catedral: uma equipa coesa, pressionante, solidária; e amiúde com um futebol absolutamente convincente. Amiúde, também, parece perder o desnorte: mas isso deve-se mais à fraca qualidade de alguns dos seus executantes (o Anderson, por exemplo) do que ao esquema de jogo ou às intervenções do treinador (também creio que não está muito bem secundado no banco).
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No jogo de hoje na Reboleira o Benfica foi uma equipa no verdadeiro sentido do termo: sabia ao que ía e foi paciente para o conseguir; foi, sobretudo, solidária. O Benfica está no bom caminho, mesmo que não ganhe o título nacional. É este o grande desafio para os clubes portugueses: o de terem projectos a médio/ longo prazo, com pessoas credíveis. Mas se o vier a conseguir - ser campeão, que não restem dúvidas: será mérito do seu treinador, em primeiríssimo lugar. Tomem-se como dados para esta opinião: o banco fraquinho da equipa; as vozes contrárias à sua contratação desde o dia do seu anúncio; a péssima gestão directiva nos processos de venda e cedência de jogadores; o "peso" de ser um treinador benfiquista; as lesões de jogadores-chave...
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Não nos falte um pouco de sorte, talvez um dos maiores defeitos do engenheiro.
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sábado, 17 de março de 2007

Arrozinho de Bróculos

Vianda
De minha Lavra
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Simples e delicioso.
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Façamos um estrugido com alguma cebola picada em pouco azeite, até que aquela fique translúcida. Junte-se-lhe, só então, uma meia dúzia de alhos picados (mexa-se apenas para que o azeite roube o sabor ao alho). Acrescentamos de imediato um pouco de água e deixamos ficar três ou quatro minutos a apurar, após o que se junta a restante água para a cozedura do arroz (na proporção de 1 deste para 1 1/2 daquela). Quando o líquido começar a ferver, junte-se-lhe o arroz Basmati e sal que baste. Durante os primeiros 2 minutos deve cozer em lume forte, após o que se reduz para intensidade média. Quando a água começar a desaparecer (pelo 6º ou 7º minuto), juntam-se os raminhos de bróculos (previamente lavados durante alguns minutos em água com umas gotas de vinagre) e um punhadinho de pedacinhos de bacon ou salsicha de presunto. Ao décimo minuto desliga-se o lume, que já estava brandinho. Revire-se o arroz uma última vez. Os bróculos acabarão por cozer no tacho, que deverá ficar destapado e coberto com um pano de cozinha.
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Casa muito bem com picanha, alheira transmontana (de Mirandela, se for artesanal; da Casa Marinel, em Lalim, Lamego, se for industrial) ou panadinhos de porco. E um bom vinho, claro.
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Bom proveito!

quinta-feira, 15 de março de 2007

"Mesada para incentivar jovens a estudar varia consoante região"

Pérola Negra
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Roubei o título deste post a um artigo do Jornal de Notícias de hoje, sobre decisão do Governo. A pérola não é do Jornal de Notícias, obviamente. Nem sobre a diferenciação da mesada, claro (embora, porventura, também merecesse uns mimos).
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Independentemente das justificações que se possam dar, está de rastos o país que paga aos seus jovens para estudar. É a negação da cultura do esforço, do brio, da perseverança, da ambição. É a negação do futuro de uma nação.
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E o mais engraçado (e quem conhece o meio, sabe que isto é uma verdade inegável) é que estes jovens fazem tudo menos estudar. Com a louvável excepção dos poucos que frequentam as escassas escolas profissionais de qualidade, os restantes estão apenas a fazer número. O que não importa, pois é isso que se quer.
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terça-feira, 13 de março de 2007

A Primavera Faz Bem

Palavra Esparsa
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Quatro borboletas esbranquiçadas a entrecruzarem-se no ar quente da tarde.
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Duas magnólias vestidas de cor-de-rosa a fazer sombra sobre o rio.
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Vários pares de namorados de mãos dadas, sentados em bancos de jardim ou sob a sombra de uma árvore. Os livros nas mochilas.
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Um jovem casal em calções a pedalar junto ao rio, empurrados por uma brisa saborosa.
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Dois patos chapinham.
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Caminho com todos os sentidos despertos, agradado, expectante.
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segunda-feira, 12 de março de 2007

Monstro Descarado

Palavra Esparsa
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O tempo estival que se fez sentir este fim-de-semana deu-me vontade de dar uma estafa ao Honda. Apeteceu-me devorar quilómetros e acampar num qualquer parque dos Picos da Europa ou da Catalunha. Infelizmente, Agosto ainda vem longe e até lá o orçamento familiar não deve dar para desvarios, mesmo que relativamente humildes. Alguém me anda a roer o fundo dos bolsos das calças. Tenho suspeitas de quem seja o monstro descarado. Deve ser o mesmo do costume.
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domingo, 11 de março de 2007

Javali no Restaurante Polo Norte

Histórias do Açúcar
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Este relato também poderia surgir-vos na rubrica Aqui Bem Se Come! Mas como com muitas outras coisas da vida, há que fazer opções. Pode acontecer que, sendo uma história com açúcar, vos pareça mais docinha.
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O restaurante Polo Norte tem as portas abertas aos amantes da boa mesa na vila de Britiande, concelho de Lamego (N 226, direcção Tarouca). Estive aqui na primeira de duas vezes, creio, em 1995, num jantar anual de amigos. Amigos lamecenses de adolescência que, por acaso ou não, se hospedaram por períodos de tempo variáveis na famigerada casa da D. Júlia, cita na Rua da Torrinha, no Porto, para frequentarem os respectivos cursos universitários (estive lá apenas dois ou três meses, mas o suficiente para poder pertencer ao clube). Estando todos a finalizar os seus cursos ou já os tendo terminado, decidimos realizar um jantar convívio anual para recordar as nossas aventuras e desventuras. Realizou-se durante três anos, até que as girandanças (o dicionário diz-me que a palavra não existe, mas gosto dela) de cada um tornaram difícil este momento de convívio.
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Fomos pelo javali, pois claro. Uma das especialidades da casa. Para dizer a verdade, não me recordo como estava. Mas só podia estar divinal, tão bem regado foi - disso sim, recordo-me. Desse jantar guardo ainda hoje este pacote de açúcar:
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Para os leigos neste maravilhoso mundo dos pacotes de açúcar, este poderá parecer um exemplar normalíssimo, pouco apelativo até. Acontece que, em Portugal, ao contrário do que sucede na vizinha Espanha (onde, por coincidência, este pacote foi embalado), é pouco comum existirem pacotes de açúcar "personalizados" (isto é: com o nome do respectivo estabelecimento, negócio...). E da década de 90 haverá mesmo muito poucos.
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Na altura, apenas "juntava" pacotes, que ia guardando numa caixa de sapatos. Caixa esta que, quinze ou dezasseis anos depois de ter começado a acolher pacotinhos de açúcar cheios, e após um abandono de quase uma década, regressou às minhas mãos há dois anos atrás vinda de casa da minha mãe. Momento em que decidi passar de ajuntador esporádico a coleccionador feroz.
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Ora, foi precisamente este pacote de açúcar que me fez voltar ao Polo Norte com a minha mãe e esposa na primavera do ano passado. Queria obter alguns para troca, caso ainda o tivessem.
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Excelente desculpa para me atirar de novo ao javali! Como resultado, este dado consabido: o palato também tem memória. O estufado só podia ter sido abençoado; ou o javardo; ou as plantas e outras criaturas de que se alimentou. Ou, mais provável, tudo isto e a fominha que trazíamos.
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Pacotes é que nem vê-los, infelizmente. Acabaram-se por volta de 1997. O cafezinho do Polo Norte é agora adoçado por saquetas correntes de marca Delta. Mas não me posso queixar. Tenho-o na minha colecção. E é um pacote muito difícil. Mas não menos importante, fiquei a saber que o Polo Norte ainda abre as portas aos apreciadores da boa mesa e, assassinos abençoados, ao saboroso porco-bravo:
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quinta-feira, 8 de março de 2007

As Nossas Escolhas

Lido e Relido
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"São as nossas escolhas que mostram o que nós somos verdadeiramente, muito mais do que as nossas capacidades."
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J. K. Rowling
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Citada em "O que Disseram", Público, 08/03/2007
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Uma frase simples; uma ideia evidente. Mas que, suspeito, me vai dar que pensar nos próximos tempos.
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quarta-feira, 7 de março de 2007

It's All In The Game

Grandes Letras
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Esta versão ao vivo de It's All In The Game (com um improviso de Make It Real One More Time) acontece no melhor período de Van Morrison. A pulsão interior e a comoção patentes em palco são absolutamente contagiantes. Rogo-vos que ouçam e vejam o Rei. E a qualidade do som e da imagem até são muito razoáveis. Obrigado YouTube. Se puderem, ouçam também a versão da canção no álbum Into the Music: mais melancólica, mais compassada, mas inesquecível.
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Many a tear has to fall
But it's all in the game
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All in the wonderful game
That we know as love
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You had words with him
And your future's looking dim
But these things your heart can rise above
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Once in a while he won't call
But it's all in the game
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Soon he'll be there by your side
With a small bouquet
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And he'll kiss your lips
And caress your fingertips
And your heart will fly away
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You had words with him
And your future's looking dim
But these things your heart can rise above
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Once in a while he won't call
But it's all in the game
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Soon he'll be there by your side
With a small bouquet
.
And he'll kiss your lips
And caress your fingertips
And your heart will fly away
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terça-feira, 6 de março de 2007

Little Village

Grandes Letras
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Little village baby, ain't large enough to be a town
From a little village baby, ain't large enough to be a town
Gotta get away from the city
It's gonna bring you down
Heard the voice of the silence, in the evening
In the long cool summer nights
Heard the voice of the silence, in the evening
In the long cool summer nights
Telling me not to worry
Everything's gonna be all right
There's only two kinds of truth
Baby let's get it straight from the start
There's only two kinds of truth
Let's get it straight from the start
It's all what you believe
Baby in your head and your heart
Heard the bells ringing
Voices singing soft and low
Heard the bells ringing
Voices are singing soft and low
Way up in the mountain, little village in the snow
Raining in the forest
Just enough to magnetise the leaves
Raining in the forest
Just enough to magnetise the leaves
We'll go walking baby with the moonlight shining down through the
........................................................................trees
Little village, way up on the mountainside
Little village baby, way up on the mountainside
Way across the ocean with you by my side
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Van Morrison,
What's wrong with this picture, 2003
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Mas o que é a letra de uma canção sem o som, a voz, o ritmo... e sobretudo, a alma irlandesa e o saxofone de Van Morrison? Ouçam-no e vejam-no aqui: Little Village
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Este álbum não será um dos seus melhores trabalhos, mas é Van Morrison. Para além da magistral Little Village, aconselho a audição de What's wrong with this picture, Somerset e o último tema: Get on with the show - aquilo que o rei tem feito ao longo de 40 anos de carreira.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Vigilante

Instantes
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Junho de 2002

Ilha de Hydra, Golfo Sarónico, Grécia

domingo, 4 de março de 2007

A Star Called Henry

Sublinhado
Há muitos anos que tenho o vício de sublinhar os livros que leio: as passagens que acho mais relevantes, belas, hilariantes...

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.....She walked into my father. Melody Nash met Henry Smart. She walked right into him, and he fell. She was half his weight, half his height, six years younger but he fell straight over like a cut tree. Love at first sight? Felled by her beauty? No. He was maggoty drunk and missing his leg. He was holding himself up with a number seven shovel he'd found inside an open door somewhere back the way he'd come when Melody Nash walked into him and dropped him onto Dorset Street. It was a Sunday. She was coming from half-eight mass, he was struggling out of Saturday. Missing a leg and his sense of direction, he hit the street with his forehead and lay still. Melody dropped the beads she'd made herself and stared down at the man. She couldn't see his face; it was kissing the street. She saw a huge back, a back as big as a bed, inside a coat as old and crusted as the cobbles around it. Shovel-sized hands at the end of his outstretched arms, and one leg. Just the one. She actually lifted the coat to check.
.....- Where's your leg gone, mister? said Melody.
.....- Are you dead, mister? she asked.
(...)
.....- Sorry, mister, said Melody.
.....He shook his head.
.....- Did you see a leg on your travels? he said.
.....- No
.....- A wooden one.
.....- No.
.....He seemed disappointed.
.....- It's gone, so, he said. - I had it yesterday.
.....Then Melody said something that started them on the road to marriage and me.
.....- You're a grand-looking man without it, she said.
.....Now he looked at Melody properly. She'd only said it to comfort him but one-legged men will grab at anything.
.....- What's your name, girlie? he said.
.....- Melody Nash, she said.
.....And henry Smart fell in love. He fell in love with the name. (...)
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.....She took her shawl and wiped his face with it. She dabbed and petted, removed the blood and left the dirt. That was his own, none of her business. It didn't bother her. Dirt and grime were the glues that held Dublin together. She spat politely on a corner of the shawl and washed away the last dried, cranky specks of blood. Then she put the shawl back on.
.....- Now, she said.
(...)
.....Who was he and where did he come from? The family trees of the poor don't grow to any height. I know nothing real about my father; I don't even know if his name was real. There was never a Granda Smart, or a Grandma, no brothers or cousins. He made his life up as he went along. Where was his leg? South Africa, Glasnevin, under the sea. She heard enough stories to bury ten legs. War, an infection, the fairies, a train. He invented himself, and reinvented. He left a trail of Henry Smarts before he finally disappeared. A soldier, a sailor, a butler - the first one-legged butler to serve the Queen. He'd killed sixteen Zulus with the freshly severed limb.
.....Was he just a liar? No, I don't think so. He was a survivor; his stories kept him going. Stories were the only things the poor owned. (...)
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Roddy Doyle é também autor de uma trilogia extraordinária sobre uma família do norte de Dublin - a família Rabbitte: The Commitments, The Snapper e The Van (as três obras foram adaptadas para cinema em realizações de Stephen Frears e Alan Parker). O seu romance Paddy Clarke Ha Ha Ha foi galardoado com o Booker Prize em 1993. Também já tive a felicidade de ler The Woman Who Walked into Doors.

Conhecer a maravilhosa Irlanda passa também por ler Roddy Doyle.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Como Me Tornei Benfiquista

Da Memória
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Terá sido por volta de 1976 ou 77 que me tornei Benfiquista. Vivia então em Barqueiros, Barcelos, numa casa gigantesca que, tudo indicava, era habitada por fantasmas. Os meus pais alugaram-na depois de regressarmos de Moçambique, criando um aviário nas suas salas do primeiro piso. Lembro-me de ouvir os relatos do Benfica nos jogos da Taça dos Campeões Europeus enquanto o meu pai cortava o pescoço às galinhas que ia vender de mota pelos restaurantes da região no dia seguinte. É das poucas memórias que tenho desses tempos. E também que a numerosa família da minha mãe era quase toda portista; e que me queriam converter; e que quase o conseguiam, não fosse este homem, que hoje nos deixou:
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Se hoje sou Benfiquista, foi graças às defesas do pequeno-grande Bento, descritas apaixonadamente pelos relatadores radiofónicos da época. Já partiu. Certamente num último voo heróico. E nós, que nos lembramos dele, sentimos que a nossa caminhada avança inexoravelmente.
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