quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Croácia (Périplo 2012), Dia 8: Dubrovnik ao sol

Madrugámos para podermos chegar a Dubrovnik  o mais cedo possível. Saímos  de  Orebić ainda antes das 8 da manhã, após um pequeno almoço a três. Seriam ainda cerca de 120 quilómetros até àquela cidade medieval. Sabíamos que seria muito difícil estacionar perto das suas muralhas se não o fizéssemos: tínhamos lido relatos de viajantes a estacionarem a 5 quilómetros de distância! Mesmo assim, ainda tivemos tempo de parar duas ou três vezes no trajeto para desfrutar de paisagens sublimes...




 
Levámos a arca connosco, pois estávamos necessitados de gelo (não havia no parque nem o tínhamos encontrado no dia anterior). A conservação dos alimentos básicos (manteiga, queijo, fiambre... cerveja!) dependia dele, uma vez que as temperaturas eram demasiado altas - 31º às 9.30, à chegada a Dubrovnik!

Estacionámos no primeiro parque subterrâneo que encontrámos, já à vista da grande muralha. Poderíamos ter arriscado um parque mais adiante, mas não sabíamos se seríamos bem sucedidos. Acabámos por fazer uma boa opção, pois cerca de 400 metros à frente deparámos com a estação de teleférico. Tencionávamos subir à montanha sobranceira a Dubrovnik e nem era tarde nem cedo. O Lonely Planet dizia-me que a vista do topo era imperdível, o que se confirmou. A Lili confessa: "A paisagem mais espetacular que vi na minha vida." Os 12.50 do bilhete justificaram-se, pois, plenamente, como o comprovam estas imagens.





Antes de regressarmos, ainda procurámos uma mesa na esplanada que dominava o Adriático do topo do monte Srd, mas as mesas com sombra estavam todas ocupadas e os preços já eram demasiado abrasivos para nos sentarmos ao sol. Na estação, de regresso, apreciámos as fotografias expostas, a relembrar a destruição ali causada pelas batalhas travadas entre croatas e "jugoslavos" em 1991 e 1992.

Acedemos à cidade muralhada pela entrada norte e não demorou muito a ficarmos de queixo caído: as ruas muito bem preservadas; os monumentos lindíssimos; o tráfego humano intenso mas suportável. O excesso de turistas desagrada-nos, mas não somos nós também parte deles - embora nos consideremos mais "viajantes"?



A hipótese de almoçarmos num qualquer restaurante foi colocada de parte mal vimos os preçários (preços 2 a 3 vezes superiores ao resto da Croácia!). Procurámos um sítio onde comprar uma cerveja para acompanhar as sandocas de frango que trazíamos, mas não encontrámos. Chegámos à conclusão de que era proibida a venda de bebidas alcoólicas (ou outras) para fora, pois não se viam garrafas ou latas em nenhum lugar. Fazia sentido, de modo a manter a cidade com uma aparência ainda mais limpa. Lá empurrámos o pão à força de água, mas com a promessa de abancarmos no primeiro sítio decente que encontrássemos para uma bebida refrescante. E não tardou: na nossa deambulação cidadela acima vislumbrámos esta tabuleta, repetida duas ou três vezes, a conduzir os nossos olhos ávidos (ou seriam as gargantas?): "Cold drinks with the best view". E era mesmo! No lado sul da cidadela, fora das muralhas e a cair sobre o mar, uma esplanada esplendorosa, a abarrotar...


O calor era intenso e parecia um crime efetuar a volta à cidade muralhada com o sol no seu pico, para mais por 10 euros a cabeça! Mas tinha de ser: água, chapéu e protetor solar e houvesse sorte.





 
Percorremos os cerca de 2 kms das muralhas em uma hora e pouco, mas parando aqui e acolá para um resguardo à sombra de qualquer parede. É um passeio lindíssimo, ora virando o olhar para a cidadela, ora para o mar aberto ou para as montanhas. A minha T-shirt ficou completamente molhada! Bebemos toda a água que levávamos - e não era pouca! - e, no fim, tivemos de retemperar forças na esplanada de uma quelha, à sombra, mas onde a temperatura não era muito inferior. Soube pela vida, como se vê:
 

Ainda cirandámos por Dubrovnik à procura de uma T-shirt que me agradasse e a um preço razoável, que encontrei. Antes de partirmos, comemos duas fatias de pizza deliciosas. Ainda bem que o fizemos, caso contrário, a azia que tivemos a seguir seria ainda pior: 16 euros (120 Kuna) por 8 horas de estacionamento! Bem: melhor isso do que caminhar 5 quilómetros, verdade seja dita! Já em Orebić, um mergulho nas águas morninhas do Adriático fez-nos esquecer tudo. E relembrar-nos do privilégio que era poder ali estar!

Para variar, decidimos jantar no restaurante do parque, num terraço virado para o mar - uma extravagância num dia que não o foi menos: um "fish platter" e uma salada, precedidos de uma sopa de peixe delicada (pese algo aguada). O grelhado misto consistia de 3 tipos de peixe (apenas identifiquei o pargo e a dourada), lulas e mexilhões, e vinha acompanhado do que nos pareceram nabiças e algumas batatas salteadas (algo salgadas). O peixe estava fresquíssimo! Foi tudo regado com vinho branco da casa e da região - Dingač. Tudo por 340 Kunas (cerca de 50 euros). No dia seguinte tentaríamos ser mais forretas...


Conta-quilómetros: 3716 (234 neste dia) 

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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Croácia (périplo 2012), Dia 7: Nota altíssima


Primošten
Para uma melhor visualização das fotografias, façam um clique sobre qualquer uma delas

Deixámos o Camping Adriatic, nos arredores de Primošten, sem saudades. Não porque o parque não fosse bom, mas por nos terem "arrestado" os cartões de cidadão durante a noite, chegando mesmo a dizer-nos que, se quiséssemos ficar no parque, os cartões teriam que ficar na receção (não tivemos alternativa, como expliquei na postagem anterior). Mas não foi por este episódio que começámos a achar os croatas pouco simpáticos; não nos estavam a parecer propriamente antipáticos: mais de um espécie de "indiferença impaciente". Mas adiante, porque não viemos pelos croatas...
 
Nem pelos generais ou javalis! Vimos vários cartazes e bandeiras com rostos de generais croatas, especialmente em vilas e aldeias, provavelmente heróis nacionais da guerra dos anos 90 com a Sérvia. Outras guerras devem travar os javalis com os automobilistas, pois são inúmeras as placas de trânsito sinalizando a existência destes mamíferos.
 
O calor vinha-nos a perseguir, mas não como neste dia: às 10.30 da manhã, já em Split, o termómetro marcava 40ºC! Como nos levantámos cedo, era hora de fintar a fome... e a sede... E não tivemos preconceitos: trazíamos uma Ožusko fresca na arca e, antes que aquecesse,...
 
Despachámos as sandocas num parque situado junto à estátua de Gregório de Nin - um bispo do séc. X que lutou pelo uso do croata antigo na liturgia. É um ponto de paragem obrigatório, junto à porta norte do Palácio de Diocleciano, pois diz-se que esfregar o seu dedo grande do pé traz sorte. Fizémo-lo, claro (azar não dará, certamente), assim como a falange de jovens que víamos em grupos de 15-20, aparentemente em excursões de cariz religioso.
 
 


O Palácio de Diocleciano, Património da Unesco, é um dos monumentos romanos mais imponentes e bem conservados da Antiguidade, cuja construção terá começado no ano 300 d.C. Vale a pena ler a página da Wikipédia dedicada a esta "residência imperial fortificada". As dimensões exteriores do palácio são espantosas: 175 (N) x 215 (E) x 157 (S) x 215 (S) metros, sendo a área edificada superior a 3,8 hectares. O que este palácio tem de mais interessante é a de ser um monumento vivo; isto é: não é nem um edifíco fechado nem uma espécie de museu, mas sim um labirinto de monumentos e de ruas cheias de lojas, restaurantes e bares.
 
Começámos por subir à torre da Catedral de São Domnus para uma vista geral sobre cidade; a meio da subida, a Lili congelou e encostou-se a uma parede; não continuaria. A vista era soberba, dando-nos a perceção da real dimensão do palácio.
 
 

Após a descida, apreciámos o ar relaxado ou introspetivo de muitos turistas no Peristilo e visitámos o Templo de Júpiter, antes de percorrermos calmamente as ruelas do complexo para oeste à procura de um local para almoçar. Acabámos por comer algumas fatias de pizza junto à marginal e sob um calor indescritível, insuportável. Tal, que acabado o frugal repasto, decidimos partir. Com alguma pena, pois a cidade convidava a mais alguns passeios displicentes, a umas conversas de esplanada... enfim...
 


 


 
Apontámos o bólide para sudeste; tentaríamos acampar perto de Dubrovnik. A caminho, teríamos de ultrapassar um possível obstáculo: a passagem pela faixa costeira de Neum. A Croácia não é um continuum territorial; a região de Dubrovnik é uma espécie de enclave, separado do resto da Croácia por 24 quilómetros de território costeiro da Bósnia e Herzegovina. Tínhamos lido que necessitaríamos de passaporte (que não levávamos) e da extensão do seguro automóvel, que geralmente não inclui a Bósnia (que levávamos). Caso não fosse possível passar o posto fronteiriço, teríamos que voltar umas dezenas de quilómetros para trás e apanhar um barco em Ploce até Trpanj, na península de Pelješac.
 
O trajeto entre a região de Ploce, onde acabava a autoestrada, e Neum, é lindíssimo, com vales extensos e férteis e montanhas a cairem no mar. A passagem pelo posto fronteiriço de Neum (foto em baixo - 4ª) revelou-se fácil (embora alguns carros estivessem a ser revistados), a que não deve ser estranho uma intenção futura de a Bósnia e Herzegovina aderir à União Europeia.
 
 

 
Após a passagem pelo segundo posto fronteiriço e novamente na Croácia, concluímos que já seria tarde para acamparmos perto de Dubrovnik (parques potencialmente cheios) e telefonei para um parque de campismo de que tinha lido muito bem, situado em Orebić, no extremo da península de Pelješac. Ainda tinham lugares e fizemos uma reserva, pois ainda nos levaria cerca de hora e meia a chegar. Faríamos desse parque um ponto de partida para Dubrovnik e outros passeios.
 
E que grande surpresa! Atravessar toda a península de Pelješac foi uma experiência sensorial magnífica: a paisagem mudava constantemente, entre estradas junto ao mar, a montanhas que davam lugar a vales desérticos e novamente a montanhas, desta vez a pique sobre o mar, da face norte à face sul da península, com ilhas ao largo desta, até chegarmos a um dos parques de campismo mais extraordinários em que já ficámos, o Autokamp Nevio.




Nesta noite, jantámos e bebemos bem: bifinhos de frango salteados com arroz seco e salada, regados antes e depois por duas cervejas estrangeiras: a checa Staropramen, referida na postagem anterior, e a bósnia Sarajevsko, em versão ruiva. Tiveram ambas nota altíssima, para não destoar do dia.

Conta-quilómetros: 3482 (310 neste dia)

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