quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ecovia de Ermelo, Arcos de Valdevez

Andarilho
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O paraíso tão perto e nós não o conhecíamos! Bem, não será tanto assim: a falta de oportunidade e de tempo é que nos limitam a aventura de sair pausadamente, de conhecer melhor locais por onde passamos com a pressa de quem não estará cá amanhã.
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A ecovia de Ermelo, no concelho de Arcos de Valdevez, é certamente um bom pedaço desse Éden da civilização que todos procuramos. Literalmente, um deserto de gente exuberantemente verde e aquático. Vivêssemos nós num país do norte da Europa e teríamos outra Oxford Street em hora de ponta! Mas por cá, país de bola, novelas e Maria, não. Fica para os poucos que se querem dar a estes prazeres, que, a bem da verdade, só assim o são.
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As condições atmosféricas eram perfeitas para esta caminhada outonal: céu quase limpo e temperaturas entre os 10º e os 25º, de início de manhã e hora do almoço - as condições ideais para um piquenique soberbo.
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Partimos da área de lazer que serve a ecovia, perto de Vilarinho de Souto, em direcção à aldeia de Ermelo, a pouco mais de 4 quilómetros. Na outra direcção, a de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, ainda só estão abertos 500 metros da grande ecovia que ligará a raia a Viana do Castelo, em todo o percurso do rio Lima, e da qual já percorremos um troço da ligação Ponte da Barca - Ponte de Lima, aqui.
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Em The Machine in the Garden, de Leo Marx, um clássico da cultura americana, podemos ler sobre a aspiração de algumas das primeiras gerações de colonos americanos na conquista daquele vasto território - a de construir no Novo Mundo uma paisagem humana à medida da natureza e não o inverso. Aqui, neste recanto do Alto Minho, face a esta geometria natural, vestimos necessariamente a pele desses colonos...
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Desculpem! Já estou a divagar, que é o que as águas calmas do Lima à nossa direita, as bolotas a estalarem sob as nossas botas e as sombras serenas dos carvalhos e castanheiros nos provocam. Divagar, sonhar, querer repetir indefinidamente aquele passeio. Só o odor a cadáver de um javali descuidado a boiar junto à margem, logo no início do percurso, nos trás à realidade.
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As conversas de amigos que só se vêem nestes momentos de convívio tomam, a espaços, o lugar dos nossos devaneios, mas por pouco tempo: as castanhas caídas nos seus ouriços espicaçam o espírito recolector que trazemos adormecido. Os bolsos enchem-se com a promessa delas quentes, a saltarem de dedo em dedo, à noite, depois do jantar. São estas que sabem melhor, segundo dizem os meus amigos e familiares; e eu acredito, que só de os ver deliciados me encho de felicidade.
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E depois a Dona Maria e os seus três companheiros, já em Ermelo, com a segurança de saber que terá apenas estes caminhantes ocasionais em sentido contrário, numa via que sente toda sua, e com quem gasta as palavras acumuladas dos dias solitários de aldeia. E a fotografia que lhe prometo deixar num café de Arcos de Valdevez, depois de revelada.
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Deixámos Ermelo para trás e caminhámos mais algumas centenas de metros, até à ponte antiga, sobre pequenas lagoas apetecíveis. É aqui que repomos energias com uma sandoca, que só de alma cheia não vivemos. É hora de fazer o percurso inverso, com um desvio ao centro da aldeia, pois todos ansiamos por um cafézinho - ai triste realidade, que até nisto te fazes lembrar!
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Mas não só por isso fazemos o desvio, e ainda bem, que cafés nem vê-los! O mosteiro cisterciense de Santa Maria do Ermelo, em estilo românico, compensa o desgosto palatino. A imagem do São Bentinho com o seu chapéu característico mereceu comentários díspares, mas todos nos curvámos perante a singeleza do templo e a beleza decadente do claustro em ruínas. O silêncio que se ouvia e o aspecto cuidado da aldeia, com muitos edifícios recuperados, fazem-me duvidar da inteligência dos homens: que razões para este Éden minhoto só ser conhecido pela romaria anual e as suas deliciosas laranjas tardias?
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O regresso fez-se com o ânimo de anteciparmos os acepipes que nos esperavam. E que bem nos souberam, naquele espaço verde à beira-água! As mesas de madeira da área de lazer foram dispostas com gosto e inteligência, para nosso prazer. Cada um partilhou com os outros o que trazia (e com os que não sabiam que deviam trazer), em especial o vinho, que se bebeu deliciadamente, pois é aqui, ao ar livre, em paz, que melhor sabe.
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Um grupo de caçadores juntou-se a nós, a alguns metros. Vinham com a casa às costas: um bom pedaço de entrecosto fazia as vezes da caça, pois essa não se consome no próprio dia, qual troféu a exibir. Não lhes faltava nada, incluindo a louça tradicional onde haviam de saborear o que tinham sobre as brasas. No fundo, como nós, o que os une é a necessidade de partilhar em convívio.
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Chegou a hora do regresso, que encetámos realizados - e com muita vontade de voltar.
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domingo, 18 de outubro de 2009

Assim se recebe em Coura

Andarilho
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Há melhor forma de dar as boas vindas a novos colegas de trabalho que uma alegre caminhada por estradas de campo e caminhos do monte? Pois parece-me que não!
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O passo ritmado e as conversas espontâneas convidam ao conhecimento mútuo, à amizade e até ao nascimento de projectos de trabalho e de lazer futuros. Assim aconteceu por Terras do Coura, num fim de tarde fresco do início de mais um ano lectivo.
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Foram 2 horas de passeio leve pelos lugares de Lamama e Casaldate, na zona limítrofe da Paisagem Protegida do Corno do Bico, e com termo na freguesia de Padornelo para um memorável lanche ajantarado, produto cuidado das cozinheiras da escola.
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O ponto alto do percurso foi a paragem em Casaldate, junto ao rio Coura, para conhecer os moinhos e engenhos de água que chegaram a formar um centro transformador de cereais e madeira, de que pudemos testemunhar um exemplo ainda em actividade. A dois passos, o açúde conhecido pela "Praia dos Tesos", onde no verão o calor chama para banhos as gentes locais. Aqui também conhecemos e provámos uma variedade de maçã, a Malápia, um fruto de formas feias e achatadas, mas extremamente saboroso e doce. Uma descoberta!
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Certamente, das muitas e boas que teremos nos intervalos de mais um ano lectivo árduo. E este verde luxuriante que nos rodeia é o melhor prenúncio.
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