sábado, 31 de agosto de 2013

Croácia (Périplo 2012), Dia 5: Žlahtina a meio da manhã

A expectativa de um dia sem muitos quilómetros de estrada, de um banho no Adriático, de algumas cervejas croatas, de paisagens novas e modos de vida diversos, animou-nos o pequeno-almoço. A ilha de Krk não era grande, no entanto, selecionamos apenas três ou quatro localidades para visitar durante o dia.
 
Logo à saída de Klimno, em Meline/ Soline, deparámos com um espetáculo inusitado: banhistas a enlamearem-se e a caminharem para a água, que lhes dava pelos joelhos bem mar adentro. Aparentemente, tratam-se de lamas medicinais e, por certo também, uma fonte de divertimento.
 
Para uma melhor visualização das fotografias, façam um clique sobre qualquer uma delas.
 

Fizemos a primeira paragem em Dobrinj, uma aldeia sossegadíssima e despretenciosa, como muitas que encontramos no Portugal transmontano ou beirão; caminhámos por entre as suas ruas estreitas a observar os pequenos pormenores: as videiras ao alto, como no Alto Minho; os gatos preguiçosos; alguns telhados a ruirem... Enviámos os primeiros postais a familiares e amigos do posto de correios local, onde aproveitámos para trocar mais kunas. Gostamos de enviar postais, porque também gostamos de os receber - expomo-los na nossa cozinha, em dois placares de cortiça. Inspiram-nos a sair!


Seguimos para Vrbnik, renomada pelo vinho branco Žlahtina, que não demorámos a saborear (às 10.30!) num balcão sobre o Adriático. Inspirador! O vinho era delicioso: muito mineral e seco. E fresquinho como estava, com aquele calor - já tórrido àquela hora! -, e após uma caminhada longa por entre as ruas do burgo, soube-nos pela vida! Na verdade, sentados ali, com aquele panorama e sentindo uma leve brisa na pele, bem pudemos dizer: "Isto é que é vida!" Decidimos voltar a Vrbnik ao final da tarde, para mergulhar nas águas translúcidas das enseadas que avistávamos dos morros de calcário da cidade. Nas barracas de lembranças e bugigangas de um adro local, comprámos as sandálias de água de que necessitaríamos para estar à vontade naquelas praias sem areia.


Preocupáva-nos o facto de não estarmos a encontrar gelo em lado nenhum - e já tinham sido vários os locais em que procuráramos, mesmo no dia anterior -, pois a nossa arca só conservava os alimentos até 20ºC abaixo da temperatura ambiente, o que era insuficiente para as temperaturas que se faziam sentir. Por isso, antes de nos dirigirmos a Krk, cidade, parámos em dois supermercados e duas ou três bombas de gasolina - mas sem sucesso. Num dos supermercados encontrámos cerveja fresca, por isso comprámos também o frango que faria o nosso jantar; tudo junto, na arca, conservaria o frango até lá.

Estacionámos no centro de Krk com alguma sorte - dupla. A alguns metros, vimos outra bomba de gasolina; sem esperança, procurei o gelo de que necessitávamos. Para meu espanto, tinham uma arca cheia dele. Comprei dois sacos, pois não tinha garantias de voltar a encontrá-lo no dia seguinte e assim teria reservas para mais algum tempo, mesmo que coubessem menos coisas na arca. Acampar é bom, mas tem destas coisas.

A cidade muralhada de Krk é bastante aprazível. O bulício turístico é suportável e os monumentos estão muito bem conservados. As ruas interiores, em calçada de mármore, estão muito bem cuidadas. Almoçámos numa esplanada da Vela Placa, a praça central, com uma torre camarária do século XV. Pedimos um churrasco  misto e uma salada, que acompanhámos com muita PAN, a primeira cerveja croata que provámos. Muito saborosa, mas de travo algo padronizado. Não tardei a descobrir por quê: pertence ao grupo Carlsberg. Depois do almoço farto, fizemos a digestão caminhando pela cidade e subindo a uma das torres da fortaleza.





Quanto ao banho em Vrbnik, as fotografias demonstram a nossa satisfação. A paisagem local é algo estéril (embora, em certas zonas da ilha, fosse quase luxuriante - um contraste interessante de se ver), mas a temperatura da água fazia esquecer tudo - sobretudo os 42ºC que se faziam sentir!
 
 
 
 
Treminámos o dia com rotinas de campista: arrumações várias; enchimento perfeito dos colchões para uma noite confortável (durante algum tempo usámos um colchão só, maior; qualquer movimento de um de nós podia acordar o outro, pois a deslocação do ar não estava confinada; depois que encontrámos estes dois que vêem na imagem abaixo, que se unem, as noites de campismo passaram a ser mais descansadas); e a confeção do jantarinho: uma massada de frango. Provámos mais duas cervejas croatas: Karlovačko e Favorit.  Gostámos de ambas, mas a segunda deixou-nos mais entusiasmados.
 
Um polaco que acampava num alvéolo vizinho e bebia o triplo de nós aconselhou-me a experimentar a Staropramen, que se via muito à venda na Croácia, mas que era checa. Conversa puxa conversa e exortou-nos - uma vez que vínhamos de tão longe - a darmos um saltinho ao Montenegro, não muito longe de Dubrovnik - "muito verde e ainda com pouco turismo", explicou-nos. "E, na Croácia, não deixem de ir à ilha de Rab!" Agradecemos-lhe as sugestões, mas não seriam para este périplo. A não ser a Staropramen, claro!
 
 
Conta-quilómetros: 2820 (108 neste dia)
 
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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Croácia (Périplo 2012), Dia 4: Na ilha impronunciável

Acordei cedo; a Lili continuava ferrada. Como não tinha sono, levantei-me para caminhar um pouco à beira-lago. Alguns veraneantes e locais já aproveitavam a serenidade do lugar, enquanto a horda de banhistas não invadia a praia. A máquina fotográfica e eu fizemos o mesmo.
 

 
Saímos de Maderno antes das 9.00 e com menos 41 euros na carteira! A noite de campismo mais cara de sempre! Seria de esperar, tal a qualidade das instalações e, sobretudo, o enquadramento paisagístico do parque. Foram justificados, mesmo que para alguns pareça muito por dormir numa tenda. Alguns diriam que isso paga-se por dormir num hotel limpo e asseado, o que é verdade em Portugal e noutras paragens; não cremos que o seja aqui. Mais: quem acampa procura o contacto imediato com a natureza, o poder acordar e sair da tenda de calções, em tronco nú; relaxar sem preconceitos. Isto:


Decidimos contornar o Lago Garda, o que ainda nos levaria duas horas e um eventual atraso na chegada à Croácia. Mas, como já disse várias vezes nestes textos, o mundo é muito grande e as nossas vidas não são elásticas, por isso, já que aqui estamos, façamo-lo, pois não sabemos se poderemos voltar. E mereceu o tempo despendido: um clima e uma paisagem surpreendentemente mediterrânicos; aparentemente, o lago é também uma meca do windsurf: eram dezenas e dezenas os carros de amantes da modalidade encostados à berma da estrada, especialmente entre Gargnano e Riva del Garda; as velas deslizavam sobre as águas a uma velocidade impressionante, grandes e pequeninas (em grupo - aprendizes, aparentemente)...


Riva del Garda
Almoçámos na Eslovénia, já tarde; optámos por fazê-lo aqui, em Izola, onde já estivéramos o ano passado, para repetir as petingas fritas e o bakala (ver estas duas postagens: aqui e aqui). Desta vez, não eram petingas, mas sim anchovas, bem mais pequenas do que as do ano passado, que então pareceram petingas. Não tinham o delicioso bakala! Estávamos cansados, talvez pelo calor abrasador que se fazia sentir (novamente 40ºC), mas nem por isso deixámos de saborear o almoço rápido, antes de nos dirigirmos para a fronteira com a Croácia. Estávamos algo apreensivos, pois iríamos sair da "segurança" da União Europeia, do livre movimento de cidadãos, do euro. Nada o justificava, mas era como nos sentíamos.


Ao passarmos a fronteira, em Kozina, o agente que conferiu as nossas identidades confirmou-me que a taxa de alcoolemia na Croácia era de 0,05, o que foi um alívio (tinha lido que era menos), pois permitia-me beber uma ou duas cervejas durante o dia. Sou um verdadeiro apreciador da bebida (mais do que bebedor), e seriam com certeza muitas as marcas diferentes a saborear (faço uma lista com todas as marcas que já provei até hoje, de inúmeros países). E então, com a canícula que se fazia sentir, nada melhor do que a bebida que Deus bebia (segundo Afonso Cruz)!

Optámos por não trocar euros por kunas à entrada da fronteira, pois as agências de câmbio assemelhavam-se mais a barracões do que a outra coisa. Tinha a indicação de que seria fácil fazê-lo nos parques de campismo. Foi só quando nos aproximámos da portagem da autoestrada que tínhamos tomado antes de Rijeka que caímos em nós: não tínhamos moeda para a pagar (sem recorrer ao cartão); mas não houve problema: o portageiro disse-nos o preço em kunas e em euros e aceitou o pagamento na moeda europeia.

Trazia uma listagem dos melhores parques de campismo da Croácia, alguns deles situados na Ístria, a zona mais turística do país - ou, pelo menos, a que possui melhores infraestruturas; e era neles que pretendíamos ficar. Como estávamos a entrar na Croácia algo tarde e perdêramos um dia em relação ao que tinha agendado, decidi que não visitaríamos aquela península, pelo menos agora; no regresso, se houvesse tempo, talvez déssemos um saltinho a Pula. Telefonei para um parque da ilha de Krk (Lê-se como se escreve, sem qualquer som de vogal), antes de me dirigir para lá. Ainda tinham um alvéolo, por isso ala que se faz tarde!

Pagámos 5 euros para atravessar os 1430 metros que mede a ponte que liga a Croácia continental a  Krk (só cobrados à entrada) e dirigimo-nos ao Kamp Slamni, em Klimno, no nordeste da ilha. Ficámos surpreendidos com a secura e aridez de Krk - não parecia fazer jus ao que tinha lido -, mas, na receção do parque, informaram-nos que não chovia ali há mais de 6 meses! O parque era pequeno mas com o espaço muito bem aproveitado, construído numa espécie de socalcos. O terreno era em areão, mas estava impecavelmente limpo. Desci à praia privativa para registar o pôr do sol. A água estava algo estagnada, pelo que não seria o melhor lugar para uma banhoca. Outros haveria.



Enquanto montávamos a tenda e fazíamos o jantar (tarefas em que suei copiosamente, tal era o calor), bebi uma Menabrea, já minha conhecida, e uma Forst, italianas que haviamos comprado em Maderno (melhor a primeira que a segunda). Depois de consultarmos os guias e a papelada que trouxemos, decidimos que ficaríamos ali duas noites, de modo a termos um dia seguinte mais relaxado. E o Honda também precisava de algum descanso. A primeira coisa que pagámos com kunas (que tínhamos trocado na receção), foi um descafeinado agradável no restaurante do parque: 8 kunas (cerca de 1 euro e 15 cêntimos); momentos antes, a Lili havia encontrado uma moeda de 5 kunas. Venham mais!

Voltámos a estender as toalhas sob as estrelas, bem mais visíveis aqui do que no Lago Garda. E o silêncio no Adriático era indescritível. Vimos várias estrelas cadentes antes de começarmos a cair no sono dos justos.

Conta-quilómetros: 2712 (557 neste dia)

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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Croácia (Périplo 2012), Dia 3: Sob as estrelas em Maderno, Lago Garda

O terceiro dia da nossa aventura terminaria, como planeáramos, junto ao Lago Garda, o maior de Itália, no sopé dos Alpes. Inicialmente, pretendíamos chegar aqui ao fim do segundo dia. Mas sem stress... que é precisamente o que esta paisagem não nos transmite.
 
Acercámo-nos ao lago após o almoço, que despachámos numa área de serviço perto de Cremona, ao lado de um camião português, cujo camionista se fazia acompanhar pela esposa, ou companheira, ou amiga... Grelhavam bifes num braseiro portátil; nós ficámo-nos por umas sandocas, batata-frita, azeitonas e cerveja sem álcool. Abordámos o lago pela margem ocidental, junto a Salò, de onde, num cotovelo de estrada, tirámos as fotos em baixo. Também ali estava um gipe desportivo com um casal de jovens, atrapalhados: estavam sem bateria. O homem acercou-se de nós e pediu-me que o levasse à garagem mais próxima, explicando o que se tinha passado; hesitei, mas acabei por assentir ao pedido, pois pareceram-me filhos de papás em passeio, o que se confirmou - eram estudantes universitários milaneses numa saída de férias num gipe descapotável emprestado (de um irmão, pareceu-me). De qualquer modo, depois de ajudá-lo a encontrar uma bateria, a três quilómetros de distância, e de arrancarmos, achámos que tomámos um risco desnecessário. Mas tudo correu bem e fizemos uma boa ação.

 
Chegámos a Maderno pouco depois, sob um sol tórrido. Caminhámos pelo paredão a observar, invejosos, as villas rodeadas por ciprestes nas encostas adjacentes; comemos um gelado, tirámos algumas fotografias e abalámos em busca de um parque de campismo mais adiante. Mas não andámos muito: ainda em Maderno, vimos várias indicações para parques de campismo junto ao lago e, como a localidade era muito agradável, fomos espreitar. Acabámos por ficar no Camping Promontorio, num alvéolo a 20 ou 30 passos da praia. Não podíamos ter feito melhor opção: com a tarde ainda a meio, não escapávamos de nova banhoca e de provarmos mais umas loiras italianas. A paisagem era deslumbrante, a água quentinha (estranho, para um lago tão a norte!), as condições do parque muito boas... Que mais se podia pedir? Fomos à água como quem não come há horas se faz a uma refeição quente: a temperatura raiava os 40º e a roupa colava-se ao corpo. As rochas e godos do leito do lago dificultavam-nos a permanência prolongada na água, pois não tínhamos as sandálias próprias para este tipo de praias. Depois do banho, caminhámos no paredão contíguo aos parques de campismo que se alinhavam e bebemos uma cerveja gelada (Poretti) numa esplanada. Perfeito!







Depois do jantar - um arroz de sardinhas e pimento verde de pedir por mais! -, voltámos a caminhar pelo paredão, observando as pessoas a gozarem a vida. Preparámos tudo para nos deitarmos e arrancarmos cedo no dia seguinte, mas, antes de nos fazermos ao colchão, sugeri à Lili que estendêssemos uma toalha na praia. A temperatura estava fantástica e o sentimento de segurança era total. Assim  fizemos. Adormecemos a olhar as estrelas e a ouvir o marulhar das ondas do lago, cheio de segredos. Acordámos pouco antes da uma da manhã e rumámos à casota. Felizes.


Conta-quilómetros: 2155 (476 nesta jornada)

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Croácia (Périplo 2012), Dia 2: Banho provençal



O segundo dia de viagem não teve muito para contar, como geralmente acontece nestas tiradas mais longas. Almoçámos por alturas de Montpellier - petiscos ainda trazidos de Portugal, seguidos de um café francês que nos continua a insatisfazer (a nossa hierarquia dos cafés: 5 estrelas para Itália, 4 para Portugal e Eslovénia, 3 para Espanha e 2 para França).
 
Procurámos acampar perto de St. Tropez, ainda a horas decentes, mas foi impossível. Nem precisávamos de entrar nos parques, pois éramos informados por avisos afixados à entrada de que estavam esgotados. No fundo, já o imaginávamos: nestas paragens da Côte d'Azur, junto ao mar, ou com marcação antecipada (de que não gostamos, por querermos ser "livres"), ou muito perto do meio-dia - a hora de check-out -, o que também não encaixa na nossa rotina de férias.
 
Avançámos então para um nosso conhecido do ano anterior - o Domaine de La Bergerie, às portas de St. Paul de Vence, que voltámos a fotografar, ao longe. Não estava a abarrotar, como no ano anterior, em que arranjámos lugar por uma unha negra; estaria a metade da ocupação, talvez - resultado de quinze dias de diferença no calendário. E também havia menos melgas, como observou de imediato a Lili.
 
Antes da primeira refeição quente em 36 horas, tivemos tempo para uma banhoca divinal na piscina do parque, quase toda para nós àquela hora (quase oito da noite). Valeu por todo o dia de viagem! Ao jantar, tínhamos já planeada uma caldeirada de bacalhau de uma posta volumosa que trouxemos congelada desde Portugal, que fomos mantendo em condições na nossa arca. Soube muito bem, não obstante um esquecimento imperdoável: esqueci-me de adicionar azeite! Fizémo-lo no final, o que disfarçou a coisa
 
Conta-quilómetros: 1679 (744 nesta tirada)
 
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