sábado, 19 de junho de 2010

Por terras de Kölsch

Andarilho
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Em Colónia pedimos Kölsch quando a sede aperta. A palavra Bier, ou equivalente em todas as línguas de Babel, não serve. Ou melhor, serve apenas para que nos sirvam outra cerveja. O termo Kölsch é uma espécie de denominação de origem: descreve uma cerveja produzida unicamente em Colónia, leve, não carbonada, servida a uma temperatura apenas fresca, em copo fino. É deliciosa e bebe-se como água! Não admira que, à chegada, no aeroporto, lêssemos este anúncio luminoso: "Aviso de segurança: não deixe a sua Kölsch sem supervisão!" Genial!
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Decididamente, uma boa companhia para uns dias bem passados numa cidade jovem, cosmopolita, dinâmica e segura. A sua catedral e o Reno são os centros de encontro das gentes locais e de viandantes. Pressentimos um ritmo de vida pausado e responsável, mais próximo do de uma cidade escandinava. Aos 100 metros de altitude, de uma das agulhas da catedral, apreciámos essa harmonia de urbe que está bem consigo própria. Era quinta-feira, dia do Corpo de Deus; não esperávamos que, também ali, na Renânia-Vestfália, fosse feriado. O céu azul e as temperaturas de sul da Europa traziam as gentes à rua em celebração da vida: de bicicleta, pausadamente e em família; em piqueniques junto ao rio, bem regados a Gaffel, Sion, Früh, Zunft e Reissdorf Kölsch - as 5 magníficas que tive o prazer de (a)provar; a desfrutar do colorido das fachadas e da alegria das esplanadas...
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E foi na esplanada da cervejeira Sion que apreciámos o nosso primeiro almoço alemão desta viagem. Como aconteceu em ocasiões anteriores, a gastronomia germânica não nos desiludiu: os legumes e as saladas estão sempre presentes, como equilíbrio para o excesso de gordura dos seus pratos, cuja digestão a cerveja ajuda a acelerar. Despachámos uma Wurst de quase meio metro (na verdade, teria uns 30 centímetros, mas ao estômago pareceu ter mais) - incomparável a qualquer salsicha que possamos provar por terras lusas. E há sempre um elemento de surpresa nestas comezainas, pois o meu domínio razoável do alemão não me permite destrinçar claramente as especificidades dos pratos locais. A muita cerveja que se passeou fugazmente pela nossa mesa e o trato simpático das gentes fizeram-nos esquecer qualquer agrura causada por mal-entendidos linguísticos.
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O apelo do Reno torna obrigatória a realização de um cruzeiro pelas sua águas, seja de uma hora como o que fizemos, seja a cruzar as fronteiras dos países que atravessa. O tráfego de balsas de transporte e barcos de cruzeiro é intensíssimo, mas organizado, harmonioso. E como aquele olhar atento que dedicamos a um quadro de um pintor famoso que, consoante o ângulo em que o observamos, nos pode fazer senti-lo de um modo distinto, também a visão da cidade a partir do rio lhe acrescenta uma beleza ainda mais sóbria. Colónia cresceu com o rio e não apesar dele: a mancha urbana não se debruça sobre as suas águas, autoritária - respeita-as, não deixando por isso de ser dominadora, de o controlar.
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O fim da nossa estada só podia ser doce: o Museu do Chocolate - um dos mais visitados da Alemanha - é uma visita indispensável, mesmo para as pessoas de espírito mais amargo. Foi construído num pontão sobre o rio e aberto para ele. O carácter lúdico e interactivo que norteou a construção dos painéis explicativos e a disposição sequencial dos vários espaços tornam a visita leve e pouco maçadora (infelizmente, uma característica de muitos museus). Aconselhamos vivamente a passagem pela estufa tropical. Não tanto pelo leque de espécies vegetais que ali podemos observar, mas mais pela experiência de sentir na pele o abafamento provocado pela atmosfera húmida e quente ali recriada. Saímos dela um minuto depois e perguntámos a temperatura: o que pareciam 45 ou 50 graus eram apenas 28. A humidade pode ser avassaladora! Assim percebemos melhor a vida sofrida dos cultivadores de cacau, fielmente narrada e ilustrada no início do percurso. Deste modo, talvez possamos fazer do nosso mundo um mundo mais justo. A passagem pela loja do museu, no final, tornou certamente o meu mundo - e o de alguns familiares e amigos - um bocadinho mais doce.
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