terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Conto de Fadas em Füssen e Hohenschwangau, Baviera

Andarilho
.
As cidades alemãs de Füssen e Hohenschwangau, na Baviera, no sopé dos Alpes, inspiram ao romance, conduzem à loucura e satisfazem devaneios fantásticos. Tudo isto aconteceu a Luís II da Baviera, que, inspirado nas lendas alemãs de Lohengrin e na obra de Wagner, magicou e custeou a construção do Schloss Neuschwanstein, imponente a um olhar da segunda destas cidades.
.
.
Visitámo-las numa excursão de um dia, vindos da Áustria, onde acampávamos junto ao Tirol. Se um castelo ou palácio alguma vez tivesse de ser aqui construído, só poderia ser este - para uma paisagem mágica, um trono de fadas: as montanhas encimadas pela neve a sul; a planície salpicada por espelhos de água a norte e em todo o redor; o verde puro que brota da terra e nos abraça ofegante; a arquitectura romântica de quem almeja mais do que a realidade lhe pode dar; e um cisne branco fantástico empoleirado numa colina, vigilante.
.
.
Em Füssen e Hohenschwangau só podíamos ser felizes: percorremos o olhar maravilhado por edifícios de inspiração romântica; pedalámos uma gaivota no Alpsee, quais cisnes aspirantes; bebemos a melhor cerveja do mundo - e se calhar a mais cara - numa esplanada de luxo; preterimos (não só, mas também por essa razão) o passeio de caleche para calcorrear em plano inclinadíssimo a estrada de acesso ao Schloss Neuschwanstein; perdemo-nos por salas e torres de magia inspirada...
.
Deixámos muito por fazer e ver, como o próprio Luís II - que terá morrido insane antes da sua conclusão. Mas o nosso mundo seria bem menos maravilhoso sem a loucura de uns poucos.
.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Boas Vinhas 2008, Dão

Enólogo dos Tesos.

Nesta rubrica, de amadorismo presumido, procurarei partilhar convosco as minhas descobertas - também elas viagens, de saber e sabor - no mundo vasto dos vinhos portugueses. E apenas aquelas que me pareçam valer realmente este punhado de palavras inexactas. E uns euritos, poucos.
.
Este tinto Boas Vinhas 2008, do Dão, é provavelmente a melhor relação qualidade-preço que já alguma vez provei. Um achado dos deuses - inspirador de descrições inebriadas! A 3 euros e umas migalhas no Intermarché de Arcos de Valdevez, em meados de Dezembro. Tão delicioso que arrebanhei as últimas 3 caixas que lá estavam no início de Janeiro, para saborear ao longo do ano, a acompanhar os meus experimentalismos culinários, os pratos da melhor cozinheira do mundo e a constância dos almoços na casa da avó Inês. Para partilhar, portanto.
.
De aromas, é bosque maduro, tostado pela canícula. Reminiscências de chocolate. Na boca, é sumo de fruto negro, puro e prolongado. Acidez ao meu gosto. Vai bem com carnes de sabor intenso. Mas, e porque serviu de companhia à consoada, tenho prova-provada de que, como o fiel amigo, vai com tudo e com todos, o desgraçado!
.
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz
Produzido pela Sociedade Agrícola Boas Quintas, Lda. - Mortágua

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mafalda, uma tasca na Arrábida

Aqui bem se come
..
O Portinho da Arrábida é uma das aldeias mais bonitas do nosso Portugal. E onde se está bem, comer bem se quer, pois claro! Há vários restaurantes de renome bem no centro da aldeia, naquele cotovelo de mar abençoado, a um olhar da praia.
.
Mas não é aí que vos aconselhamos a nutrir a alma: ao descer a serra, a parcos duzentos metros dos semáferos que controlam o acesso à aldeia, do lado esquerdo - o da serra -, e com ampla vista sobre o Atlântico e o Estuário do Sado, mora a Cervejaria Mafalda. Há cinco anos, vi aqui, pela primeira vez, uma alfarrobeira - do outro lado da estrada, em frente a esta casa de comeres humildes e amiga da carteira. Ainda cá está, bengala de memórias.
.
.
Se não vierem com muita fominha, não comam mais nada: a sopa do mar que em cima se ilustra, servida sobre pão alentejano (peçam-no, em vez das tostinhas sugeridas), justifica os dez euros pedidos (dose farta para duas pessoas) e fará esquecer muitas outras iguarias de boa recordação.
.
Perguntámos pelas sardinhas, mas aconselharam-nos o robalinho: "não trouxe sardinha - não estava como eu gosto", explicou a funcionária, num apontamento que diz tudo. Veio, como já a sopa tinha vindo, pelas mãos da D. Maria Antónia, a proprietária e cozinheira desta tasca aprazível há 57 anos. E veio grelhadinho no ponto, a desfazer-se na boca, com umas batatinhas cozidas que não lhe fizeram jus. Era peixe de mar saborosíssimo e por isso pedia um tubérculo à altura. Também faltavam uns grelinhos cozidos, mas isso já são gostos pessoais. Em todo o caso, aquela sopa desculpa tudo!
.
Depois do almoço tardio e de menos vinte e quatro euros na carteira, que também pagaram um queijinho derretido, azeitonas e um branquinho da Bacalhoa, caminhámos um pouco estrada abaixo, sob um sol de Fevereiro primaveril. O suficiente para, naquela curva apertadíssima junto ao Museu Oceanográfico, poder rever a enseada belíssima do Portinho da Arrábida. Regressámos realizados e com a digestão em trote alegríssimo.
.

À mesa: o Viandante e a Liliana
Serviço: simpático e prestável
Ambiente e Decoração: simples e humilde
Higiene: razoável
Preço: muito bom
Avaliação geral: 8/10