domingo, 31 de dezembro de 2006

Ano Novo, Vida Nova?

Palavra Esparsa
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Ano novo, vida nova!, costumamos dizer. Todos os ditos encerram em si algo de verdade. Para melhor ou pior, será sempre, de algum modo, "vida nova"; e também será sempre a mesma vidinha em muitos aspectos da nossa caminhada pessoal.
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Não atribuo especial importância e este período festivo de final de Dezembro. Houvesse um pouco mais de disponibilidade financeira e estaria de bom grado a viandar por paragens desconhecidas. De mochila às costas na Nova Zelândia, de bicicleta na Nova Gales do Sul (sonha, Rui, sonha...), sozinho, acompanhado... o que fosse - o importante seria estar longe das rotinas que nos aprisionam durante o ano inteiro. Isso sim, seria vida nova.
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Para muitos, infelizmente, neste inverno gelado, um agasalho e uma refeição quente todos os dias já seriam uma boa nova.
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Obviamente, valorizo o estar em família - que esta quadra propicia. Mas isso, vou tentando fazê-lo durante todo o ano... assim como com os amigos...
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Por isso, aproveito a noite de ano novo (ou será "noche vieja", como dizem os espanhóis) para, em vez de formular 12 desejos, estabelecer 12 propósitos - que geralmente implicam uma qualquer mudança ou um esforço significativo. Fico contente se consigo tornar reais metade deles - pois isso, sim, renova a minha vida.
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Seja qual for o vosso rito de passagem de ano, desejo do fundo do coração que augure um feliz 2007.

sábado, 30 de dezembro de 2006

Olá...!

Instantes

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Agosto de 2005
Ruta del Cares, Picos da Europa, Espanha
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Olá, ... Ermelinda! Parabéns! Perdoa-me, mas não me lembrei de mais nada. Hoje a criatividade não me tocou. Mas o pardaleco até é giro, não é? Cheio de personalidade... Beijinhos.

Poema do Alegre Desespero

Poema do Mundo

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Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de um certo Fernão Barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, e o Artaxerxes, e o Xenofonte, e o Heraclito
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Epiro, e conquistavam o Epiro e perdiam
.......................................................................................[o Lacio,
e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as Campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogéneo,
e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinza e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

António Gedeão

in António Gedeão, Poesias Completas (1956-1967), Livraria Sá da Costa Editora, 1987

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Amanhecer Alpino

Instantes

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Agosto de 2004
Parque de Campismo "Oberwötzlhof-Camp", Abtenau, Áustria

Mais vale só o peixe frito do que mal acompanhado

Lido e Relido


Nós os portugueses temos um horror especial às más companhias e, quanto aos acompanhamentos dos pratos que adoramos, nem se fala. Português e portuguesa que se prezem, levados a escolher entre partilhar a mesa com um autêntico pirata ou acompanhar os carapauzinhos com puré de batata em vez de arrozinho de tomate, jamais hesitarão em clamar, com a voz embargada de repentina hospitalidade: "Venha daí sua excelência o pirata!"
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É tal o respeito que, quando falamos das coisinhas com que gostamos de comer as nossas coisas, usamos a linguagem diplomática, reservada às digníssimas esposas dos embaixadores: "Acompanha a senhora Dona Saladinha de Pimentos e suas fiéis acólitas, as Meninas Batatinhas Cozidas". E já se sabe que se está a falar do Marquês Sardinha Assada."
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Quando viajamos pela primeira vez, nem que seja a Espanha, ficamos chocados quando nos trazem o bife solitário. Então e o resto, hermano? Pede-se e paga-se à parte. É um escândalo.
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Parte integral do nosso prazer é perguntar acerca de cada prato, quando ponderamos uma ementa: "E vem com quê, esta merda?" (...)
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É por isso que ficamos tragicamente desiludidos quando o empregado, se for da frequente laia dos estraga-prazeres, responde, com o desprezo de um bombista: "Com aquilo que o senhor quiser".
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"O que eu quiser?" Mas já chegamos à anarquia ou quê? Na cozinha portuguesa não há cá eus nem quereres - só apetecimentos. Nós não "queremos" nada - apenas nos apetecem umas iscas e gostaríamos que "viessem" com o acompanhamento com que sempre vêm. Se, por algum trauma de infância, preferimos com batata frita em vez de batata cozida, é a nós que nos compete humilharmo-nos e rastejarmos pelo chão daquela casa de pasto, pedindo em voz muito baixa se "pode ser" com batata frita, como quem confessa gostar de vestir "collants" rasgados na rabeira e aí levar umas boas vergastadas de rama de nabos.
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No fundo, os acompanhamentos na cultura portuguesa são amigos. Entre nós, é raro cultivar-se a amizade singular. Gostamos de ver, pelo menos, dois amigos juntos. É a fenomenologia da "malta". (...)
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O arroz de tomate é o camarada Necas do Peixe Frito; o rapaz que está sempre com ele; (...)
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É por isso que defendo a casmurra intransigência dos portugueses no que toca aos acompanhamentos. Noutros países pode ser uma questão de escolha livre e democrática - se alguém quer uma saladinha satânica de ananás e milho com o cachucho, pois que peça e pague. Para nós, essas fantasias não são acompanhamentos - antes acompanhantes, à maneira daquelas senhoras de vida difícil com vitrine na "Capital".
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E é assim que deve ser. Até porque já é. E melhor argumento não pode haver. Quer dizer, até há. Mas não é para aqui chamado.
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O progresso, para os portugueses, é haver milagrosamente tomates cheirosinhos até em Janeiro, graças ao injustamente vilipendiado efeito-estufa, permitindo-nos prolongar o arrozinho de tomate para generosamente poder fazer companhia aos peixinhos que singram no inverno e dantes ansiavam em vão por serem bem fritinhos e bem acompanhados.
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Apesar de tudo, se há coisa, no meio de tanta ludibriação e barrete; de tanto eufemismo e meia-verdade; que não minta, é o nosso garfinho...
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Miguel Esteves Cardoso
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in A Mesa Portuguesa, coluna do DNA , edição de 9 de Janeiro de 2004

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Este País...

Palavra Esparsa

Ouvi hoje, num noticiário televisivo, um responsável da Turistrela acusar o Parque Natural da Serra da Estrela de não permitir que a sua empresa expanda as suas infra-estruturas de modo a acomodar mais turistas de inverno - isto é, de demorar demasiado tempo a autorizar os projectos de investimento da concessionária, que passam pela ampliação dos actuais 6,2 kms de pistas para cerca de 40-50. Dando o exemplo de que no país vizinho, estâncias de inverno muito próximas de Portugal, de altitude semelhante, como Béjar, a sul de Salamanca, estarem a crescer a um ritmo muito mais acelerado, atraindo os desportistas de inverno portugueses.
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Francamente, não me interessa saber a razão do atraso. Nem quem tem razão.
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Há três semanas atrás estive em Vannes, França, em representação da minha escola, numa reunião preparatória para o desenvolvimento de um projecto Comenius. Da ordem de trabalhos fazia parte uma comparação exaustiva dos sistemas de ensino dos diferentes países representados, incluindo os períodos de férias escolares. Fiquei estupefacto por saber o seguinte: em França existe um período de descanso escolar chamado Vacances d'Hiver, de quinze dias, que não é igual em todas as regiões. O país está dividido em 3 zonas e os períodos de descanso para o ano lectivo 2007-2008 são os seguintes: Zona A - 16 de Fev. a 3 de Mar.; Zona B - 9 de Fev. a 25 de Fev.; Zona C - 23 de Fev. a 10 de Mar. Em resumo: as estâncias de turismo de inverno estão cheias durante um mês em vez de 15 dias - se o período de descanso fosse igual em todo o país.
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Se fosse um Gato Fedorento, poderia estar para aqui a disparatar: Topas a diferença? Não topas a diferença? Não topas?!!!

Anoitecer Atlântico

Instantes

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Junho de 2002
Vista sobre a Ribeira Quente, S. Miguel, Açores

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Bank Holiday em Waterford, Irlanda (I)

Andarilho


Viajar na Irlanda é uma experiência maravilhosa. Não é a beleza paisagística do país que nos comove, nem o seu património arquitectónico. A Irlanda toca-nos na alma através das suas gentes, de uma afabilidade pouco comum. Partilham com os portugueses uma curiosidade congénita pelo outro, o forasteiro. Creio ser isso que nos leva a querer conquistar o outro, a curiosidade por conhecê-lo.
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Mas o que me tocou fundo em Waterford, cidade estuarina do sudeste da República da Irlanda, foi a atmosfera festiva que encontrámos. Viajava com três amigos, de mochila às costas, sem nada marcado. De algum modo, por isso, não esperávamos que a cidade nos recebesse de forma tão imprevisível. Pois quando se viaja assim, contamos com a previsibilidade das instituições, dos horários, dos espaços cartografados.
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O autocarro deixou-nos na marginal do rio Suir. Caminhámos em direcção ao centro da cidade, à procura do posto de turismo - a primeira coisa que fazíamos sempre, para tratar da marcação do alojamento. O Turismo Irlandês, assim como o Britânico, têm um genial sistema de marcação de alojamentos chamado BABA (Book a Bed Ahead): em qualquer posto de turismo podemos pedir para que nos marquem alojamento (de qualquer tipo) em qualquer local do país, para o próprio dia - serviço pelo qual nos cobram uma ninharia. Informaram-nos que em Waterford estava tudo esgotado, porque era Summer Bank Holiday (o equivalente a uma nossa "ponte"). Tivemos que marcar o Bed & Breakfast para Tipperary, a 80 kms de distância. Confirmámos os horários dos autocarros e concluímos que podíamos almoçar em Waterford, com calma. Voltámos à rua e ao virar uma esquina, numa via lateral, deparámos com isto:



Uma brass band a tocar para ninguém! Tinham acabado de descarregar os instrumentos de uma carrinha vinda do norte de Inglaterra. Alguns deles ainda estavam a vestir-se lá dentro. Ficámos ali, únicos espectadores, maravilhados com a qualidade da música que tocavam - temas das grandes bandas americanas. Era um grupo muito heterogéneo, com pessoas de várias idades e notóriamente de várias origens sociais. Não sei quanto tempo ali ficámos. Creio que continuámos a calcurrear as ruas da cidade apenas depois de terem feito um intervalo e quando já tinham outros espectadores.

Ao chegarmos às ruas centrais, deparámo-nos com outro grupo - este ainda a posicionar-se da melhor forma, dispondo os instrumentos e tomando cada um dos músicos a posição adequada. Um dos elementos marcava uma elipse no chão com um pedaço de giz. Em poucos minutos, os transeuntes encheram o espaço livre para além da elipse e a música começou a jorrar dos instrumentos:


Os temas foram tocados com tal perfeição e vivacidade que as lágrimas vieram-me aos olhos. E a comoção não me tocou apenas a mim. Foi um daqueles momentos das nossas vidas em que somos surpreendidos pelo belo: aqui não apenas o belo estético, mas também o belo que apreendemos da harmonia das pessoas em festa, em êxtase.

Soubemos pouco depois, ao almoço, após uma conversa memorável que tive com uma senhora de idade agradabilíssima (conversa essa que ficará para outro relato), que se tratava de um concurso anual de brass bands, que tinha lugar na Summer Bank Holiday, e a que acorriam bandas de vários pontos das Ilhas Britânicas.

A imprevisibilidade também pode ser bela...

Dedico este post ao meu bom amigo Zé António, com quem partilhei esta fantástica viagem, que hoje faz anos. Cheers!, Zé. Have a good flight!

"Aeroporto" Druid Circle, Kenmare, Irlanda

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Sorte Grande em Nerín, Aragão

Histórias do Açúcar



Gostamos muito de acampar, pois permite-nos um contacto mais estreito com a natureza e as gentes locais e ver e viver muito mais do que o comum dos turistas. Para além disso, possibilita-me aquilo que sempre gostei de fazer: planear as minhas próprias viagens.
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Em Agosto deste ano passámos uns dias na Catalunha e Aragão; o nosso destino principal era os Pirinéus Aragoneses. O parque de campismo Peña Montañesa, perto de Aínsa, foi uma das nossas escolhas para aí passarmos uns dias - absolutamente recomendável:
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Parque de Campismo Peña Montañesa, em primeiro plano

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No dia 9 de Agosto, de manhã cedo, dirigimo-nos para norte de Aínsa, em direcção ao Parque Nacional de Ordesa y Monte Perdido, onde planeáramos fazer uma caminhada: parte da Ruta Ereta de Biés. Depois desta caminhada fantástica com a nossa amiga Rosário, já quase duas da tarde, tratámos de procurar um restaurante onde recuperar as energias dispendidas e matar a fominha desgraçada. Pensáramos dirigir-nos a Sarvisé, a leste do parque, a localidade mais próxima de onde nos encontrávamos, a uns 20 kilómetros de distância. Todavia, logo no início do trajecto, encontrámos um desvio para uma aldeia próxima de uma pista de esqui de fundo... e uma placa com as palavras mágicas: Hotel - Restaurante Palazio, 1 km. A aldeia chama-se Nerín - está a 1281 metros de altitude e é maravilhosa:
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Nerín
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O repasto foi magnífico (acho que ainda tenho o sabor de uma tarte de framboesa na boca!!!), bem regadinho e tudo; e claro, com os habituais pacotes de açúcar personalizados, tão comuns em Espanha. À saída passei pelo bar do hotel e pedi mais um ou dois pacotinhos. O barman era um dos dois irmãos donos do estabelecimento. Depois de efectuar o pedido, confidenciou-me que também coleccionava azucarillos, mas que já não dispunha de tempo para se dedicar a eles. Não podia ter sido melhor deixa: descarado, pedi-lhos!!! Terá pensado um pouco enquanto continuávamos a conversar, até que me pediu a minha morada - para mos enviar à cobrança, caso se decidisse a oferecer-mos. Enquanto escrevia a minha morada num recibo de multibanco, perguntou-me se nos íamos demorar por ali... Respondi-lhe que tencionávamos caminhar um pouco pela aldeia para fazer a digestão... Sou malandro, não sou?! Pediu-me então que tornasse a passar pelo hotel depois do nosso passeio. Foram 30 minutos de pura adrenalina! A aldeia rústica já é lindíssima, mas garanto-vos que naquele momento me pareceu a mais bela do mundo... Ao passarmos novamente pelo hotel, deparei com uma caixa de cartão enorme em cima da barra, com cerca de 1500 pacotes já organizados em bolsas de plástico e mais cerca de 1500 a 3000 pacotes (ou até mais, pois não os cheguei a contar) cheios e vazios, "ao monte". Eram para mim! OFERECIDOS!
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Foi um gesto que nos deixou sem palavras: pelo desprendimento em relação a estes objectos de colecção a que já tinha dedicado muito do seu tempo livre. Perguntei ao Pedro Palacio, o seu nome, se lhe poderia enviar alguma coisa de Portugal como forma de agradecimento. Apenas me pediu que daqui a um ano ou dois voltasse ao hotel para fazer uma exposição num espaço de lazer e exposições que ele e o irmão estavam a construir durante o inverno (pois durante o verão dedicavam-se ao negócio do turismo). Prometi-lhe voltar - o que procurarei cumprir, obviamente. Deste momento fantástico num local tão remoto e belo, ficou esta fotografia, este relato e, mais importante, um gesto de generosidade que recordarei para sempre.

São estas pequenas (grandes) histórias que fazem do coleccionismo de pacotes de açúcar um passatempo tão... docinho. Um Viva! para o Pedro!
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segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Amendoeira e... Vinhedo

Instantes
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Fevereiro de 2006
Perto de Folgosa do Douro

Conversa na Catedral

Sublinhado
Há muitos anos que tenho o vício de sublinhar os livros que leio: as passagens que acho mais relevantes, belas, hilariantes...
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Li Conversa na Catedral, de Mário Vargas Llosa, em Setembro/ Outubro de 1995. É, ainda hoje, um dos meus romances de eleição. Marcou-me logo desde a primeira página - esta, de que vos mostro dois sublinhados. Sem dúvida, pelo seu processo narrativo e técnica de diálogo... Edição de 1991 do Círculo de Leitores.

domingo, 24 de dezembro de 2006

As Rabanadas da Minha Mãe

Vianda
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As rabanadas da minha mãe são as melhores do mundo. Indiscutivelmente! Dúvidas? Se alguém as tiver, fica desde já marcado um duelo de rabanadas junto ao Paço de Giela, em Arcos de Valdevez, para as 24 horas de hoje, noite de consoada. Atrevam-se!
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Por que são as melhores do mundo? Antes de mais, porque é ela quem o diz (só aos filhos, claro); em segundo lugar, e não menos importante, porque sou eu que as provo.
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Mas tenho uma boa notícia: a minha mãe não se importa de partilhar a receita; só não pode é emprestar as suas mãozinhas de fada. Desenrasquem-se!
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Tudo começa pela escolha do melhor pão, claro: cacete com mistura de centeio, a cortar em fatias da grossura do dedo médio da mão. Leve-se o leite ao lume com 2 colheres de açúcar e uma ou duas cascas de limão, até ficar quente. Verta-se o dito para um recipiente, onde se irão molhar completamente as fatias de pão, uma a uma. O leite absorvido pelas fatias de pão em excesso deverá ser espremido entre as palmas das mãos. De seguida, passam-se por ovo batido e tornam-se a espremer do mesmo modo. Entretanto, já se colocou ao lume uma frigideira com bastante óleo, onde se fritarão as fatias de pão até que fiquem douradas. Também já se colocou uma cafeteira com água ao lume, a que se junta bastante açúcar, um pau de canela e três ou quatro cascas de limão. Deixa-se ferver até reduzir. À calda adicionamos, então, um cálice de Vinho do Porto. A ferver novamente até ficar apurado. Mais um cálice de Vinho do Porto e deixa-se que apenas levante fervura para obtermos a calda final, que se coloca num recipiente. Uff! Etapa final: embebemos as fatias de pão fritas nesta calda deliciosa, antes de as colocarmos na travessa ou taça, uma a uma. O que sobrar da calda, verte-se sobre ao que agora já podem chamar de As Rabanadas da Mãe do Rui.
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E aqui têm o meu miminho de Natal. Prometo que comerei uma por cada um de vós... têm bom aspecto, não têm?
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Espero que também gostem do meu blogue - recém nascido... E que o possam visitar muito de vez em quando, nem que seja para ver se não haverá por aqui mais algum miminho para os meus amigos - ou uma história que partilhemos.
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Tudo de bom para todos.
Rui

sábado, 23 de dezembro de 2006

Rosto Irlandês




Capas




A National Geographic de Abril de 1976 apresenta na capa o rosto lindíssimo de um garoto irlandês da península de Dingle. É um dos exemplares da revista americana que guardo com mais carinho. Igual à paixão que nutro pelo país.
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Cabelo ruivo, bochechas nutridas, sardas belíssimas, olhar e meio-sorriso traquinas... É este ainda o rosto de muitos garotos irlandeses trinta anos depois, numa época bem mais abastada. Porque também é sobre isso que nos fala esta capa: sobre a pobreza generalizada de um país então ainda em busca de se afirmar. Quantos garotos terão vestido antes este casaco de corte adulto e lavra artesanal? Quantas casas não teríam então as paredes vazias de cor? Seria esta criança feliz porque tinha muitos brinquedos... ou porque corria pelos prados esmeralda empurrado pelo vento frio do Atlântico Norte?
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Não escrevo este post só para partilhar convosco esta capa. Ontem a minha esposa passou pelo quiosque e trouxe-me o último número da National Geographic portuguesa. Custou apenas um euro. Um euro! Não é a primeira vez que a revista é vendida a este preço absurdo. Será uma campanha para angariar mais assinantes? Desejo sinceramente que não seja uma tentativa desesperada. Em todo o caso, decidi subscrevê-la. Façam o mesmo, se já não o fizeram. O seu desaparecimento seria uma perda irrecuperável: não há nenhuma outra publicação com esta qualidade. Na edição deste mês podemos ler um artigo sobre uma outra perda, tristemente famosa: a presumível extinção do pica-pau-bico-de-marfim. Só este relato valeria o euro dispendido.
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National Geographic Portugal: http://www.nationalgeographic.pt

The Mother

Poema do Mundo


Of course I love them, they are my children.
That is my daughter and this is my son.
And this is my life I give to them to please them.
It has never been used. Keep it safe. Pass it on.

Anne Stevenson

Dedico o primeiro post do meu blogue à minha mãe, Alice.