quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Croácia (Périplo 2012), Dia 4: Na ilha impronunciável

Acordei cedo; a Lili continuava ferrada. Como não tinha sono, levantei-me para caminhar um pouco à beira-lago. Alguns veraneantes e locais já aproveitavam a serenidade do lugar, enquanto a horda de banhistas não invadia a praia. A máquina fotográfica e eu fizemos o mesmo.
 

 
Saímos de Maderno antes das 9.00 e com menos 41 euros na carteira! A noite de campismo mais cara de sempre! Seria de esperar, tal a qualidade das instalações e, sobretudo, o enquadramento paisagístico do parque. Foram justificados, mesmo que para alguns pareça muito por dormir numa tenda. Alguns diriam que isso paga-se por dormir num hotel limpo e asseado, o que é verdade em Portugal e noutras paragens; não cremos que o seja aqui. Mais: quem acampa procura o contacto imediato com a natureza, o poder acordar e sair da tenda de calções, em tronco nú; relaxar sem preconceitos. Isto:


Decidimos contornar o Lago Garda, o que ainda nos levaria duas horas e um eventual atraso na chegada à Croácia. Mas, como já disse várias vezes nestes textos, o mundo é muito grande e as nossas vidas não são elásticas, por isso, já que aqui estamos, façamo-lo, pois não sabemos se poderemos voltar. E mereceu o tempo despendido: um clima e uma paisagem surpreendentemente mediterrânicos; aparentemente, o lago é também uma meca do windsurf: eram dezenas e dezenas os carros de amantes da modalidade encostados à berma da estrada, especialmente entre Gargnano e Riva del Garda; as velas deslizavam sobre as águas a uma velocidade impressionante, grandes e pequeninas (em grupo - aprendizes, aparentemente)...


Riva del Garda
Almoçámos na Eslovénia, já tarde; optámos por fazê-lo aqui, em Izola, onde já estivéramos o ano passado, para repetir as petingas fritas e o bakala (ver estas duas postagens: aqui e aqui). Desta vez, não eram petingas, mas sim anchovas, bem mais pequenas do que as do ano passado, que então pareceram petingas. Não tinham o delicioso bakala! Estávamos cansados, talvez pelo calor abrasador que se fazia sentir (novamente 40ºC), mas nem por isso deixámos de saborear o almoço rápido, antes de nos dirigirmos para a fronteira com a Croácia. Estávamos algo apreensivos, pois iríamos sair da "segurança" da União Europeia, do livre movimento de cidadãos, do euro. Nada o justificava, mas era como nos sentíamos.


Ao passarmos a fronteira, em Kozina, o agente que conferiu as nossas identidades confirmou-me que a taxa de alcoolemia na Croácia era de 0,05, o que foi um alívio (tinha lido que era menos), pois permitia-me beber uma ou duas cervejas durante o dia. Sou um verdadeiro apreciador da bebida (mais do que bebedor), e seriam com certeza muitas as marcas diferentes a saborear (faço uma lista com todas as marcas que já provei até hoje, de inúmeros países). E então, com a canícula que se fazia sentir, nada melhor do que a bebida que Deus bebia (segundo Afonso Cruz)!

Optámos por não trocar euros por kunas à entrada da fronteira, pois as agências de câmbio assemelhavam-se mais a barracões do que a outra coisa. Tinha a indicação de que seria fácil fazê-lo nos parques de campismo. Foi só quando nos aproximámos da portagem da autoestrada que tínhamos tomado antes de Rijeka que caímos em nós: não tínhamos moeda para a pagar (sem recorrer ao cartão); mas não houve problema: o portageiro disse-nos o preço em kunas e em euros e aceitou o pagamento na moeda europeia.

Trazia uma listagem dos melhores parques de campismo da Croácia, alguns deles situados na Ístria, a zona mais turística do país - ou, pelo menos, a que possui melhores infraestruturas; e era neles que pretendíamos ficar. Como estávamos a entrar na Croácia algo tarde e perdêramos um dia em relação ao que tinha agendado, decidi que não visitaríamos aquela península, pelo menos agora; no regresso, se houvesse tempo, talvez déssemos um saltinho a Pula. Telefonei para um parque da ilha de Krk (Lê-se como se escreve, sem qualquer som de vogal), antes de me dirigir para lá. Ainda tinham um alvéolo, por isso ala que se faz tarde!

Pagámos 5 euros para atravessar os 1430 metros que mede a ponte que liga a Croácia continental a  Krk (só cobrados à entrada) e dirigimo-nos ao Kamp Slamni, em Klimno, no nordeste da ilha. Ficámos surpreendidos com a secura e aridez de Krk - não parecia fazer jus ao que tinha lido -, mas, na receção do parque, informaram-nos que não chovia ali há mais de 6 meses! O parque era pequeno mas com o espaço muito bem aproveitado, construído numa espécie de socalcos. O terreno era em areão, mas estava impecavelmente limpo. Desci à praia privativa para registar o pôr do sol. A água estava algo estagnada, pelo que não seria o melhor lugar para uma banhoca. Outros haveria.



Enquanto montávamos a tenda e fazíamos o jantar (tarefas em que suei copiosamente, tal era o calor), bebi uma Menabrea, já minha conhecida, e uma Forst, italianas que haviamos comprado em Maderno (melhor a primeira que a segunda). Depois de consultarmos os guias e a papelada que trouxemos, decidimos que ficaríamos ali duas noites, de modo a termos um dia seguinte mais relaxado. E o Honda também precisava de algum descanso. A primeira coisa que pagámos com kunas (que tínhamos trocado na receção), foi um descafeinado agradável no restaurante do parque: 8 kunas (cerca de 1 euro e 15 cêntimos); momentos antes, a Lili havia encontrado uma moeda de 5 kunas. Venham mais!

Voltámos a estender as toalhas sob as estrelas, bem mais visíveis aqui do que no Lago Garda. E o silêncio no Adriático era indescritível. Vimos várias estrelas cadentes antes de começarmos a cair no sono dos justos.

Conta-quilómetros: 2712 (557 neste dia)

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