terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Sorte Grande em Nerín, Aragão

Histórias do Açúcar



Gostamos muito de acampar, pois permite-nos um contacto mais estreito com a natureza e as gentes locais e ver e viver muito mais do que o comum dos turistas. Para além disso, possibilita-me aquilo que sempre gostei de fazer: planear as minhas próprias viagens.
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Em Agosto deste ano passámos uns dias na Catalunha e Aragão; o nosso destino principal era os Pirinéus Aragoneses. O parque de campismo Peña Montañesa, perto de Aínsa, foi uma das nossas escolhas para aí passarmos uns dias - absolutamente recomendável:
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Parque de Campismo Peña Montañesa, em primeiro plano

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No dia 9 de Agosto, de manhã cedo, dirigimo-nos para norte de Aínsa, em direcção ao Parque Nacional de Ordesa y Monte Perdido, onde planeáramos fazer uma caminhada: parte da Ruta Ereta de Biés. Depois desta caminhada fantástica com a nossa amiga Rosário, já quase duas da tarde, tratámos de procurar um restaurante onde recuperar as energias dispendidas e matar a fominha desgraçada. Pensáramos dirigir-nos a Sarvisé, a leste do parque, a localidade mais próxima de onde nos encontrávamos, a uns 20 kilómetros de distância. Todavia, logo no início do trajecto, encontrámos um desvio para uma aldeia próxima de uma pista de esqui de fundo... e uma placa com as palavras mágicas: Hotel - Restaurante Palazio, 1 km. A aldeia chama-se Nerín - está a 1281 metros de altitude e é maravilhosa:
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Nerín
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O repasto foi magnífico (acho que ainda tenho o sabor de uma tarte de framboesa na boca!!!), bem regadinho e tudo; e claro, com os habituais pacotes de açúcar personalizados, tão comuns em Espanha. À saída passei pelo bar do hotel e pedi mais um ou dois pacotinhos. O barman era um dos dois irmãos donos do estabelecimento. Depois de efectuar o pedido, confidenciou-me que também coleccionava azucarillos, mas que já não dispunha de tempo para se dedicar a eles. Não podia ter sido melhor deixa: descarado, pedi-lhos!!! Terá pensado um pouco enquanto continuávamos a conversar, até que me pediu a minha morada - para mos enviar à cobrança, caso se decidisse a oferecer-mos. Enquanto escrevia a minha morada num recibo de multibanco, perguntou-me se nos íamos demorar por ali... Respondi-lhe que tencionávamos caminhar um pouco pela aldeia para fazer a digestão... Sou malandro, não sou?! Pediu-me então que tornasse a passar pelo hotel depois do nosso passeio. Foram 30 minutos de pura adrenalina! A aldeia rústica já é lindíssima, mas garanto-vos que naquele momento me pareceu a mais bela do mundo... Ao passarmos novamente pelo hotel, deparei com uma caixa de cartão enorme em cima da barra, com cerca de 1500 pacotes já organizados em bolsas de plástico e mais cerca de 1500 a 3000 pacotes (ou até mais, pois não os cheguei a contar) cheios e vazios, "ao monte". Eram para mim! OFERECIDOS!
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Foi um gesto que nos deixou sem palavras: pelo desprendimento em relação a estes objectos de colecção a que já tinha dedicado muito do seu tempo livre. Perguntei ao Pedro Palacio, o seu nome, se lhe poderia enviar alguma coisa de Portugal como forma de agradecimento. Apenas me pediu que daqui a um ano ou dois voltasse ao hotel para fazer uma exposição num espaço de lazer e exposições que ele e o irmão estavam a construir durante o inverno (pois durante o verão dedicavam-se ao negócio do turismo). Prometi-lhe voltar - o que procurarei cumprir, obviamente. Deste momento fantástico num local tão remoto e belo, ficou esta fotografia, este relato e, mais importante, um gesto de generosidade que recordarei para sempre.

São estas pequenas (grandes) histórias que fazem do coleccionismo de pacotes de açúcar um passatempo tão... docinho. Um Viva! para o Pedro!
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