quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Périplo 2011, Eslovénia - Dia 4: vida endinheirada

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Não imaginávamos que a Provença e a Côte d'Azur pudessem ser tão... caras. Mas as vivendas que salpicam as colinas em redor de Vence, Cannes e Nice justificam-no: quem tem dinheiro para aqui viver (mais ainda, se tiver casa de férias), pode bem pagar os preços que se praticam por todo o lado, como aqueles limões que vimos em Cannes a 5.20 o kilograma (ai se a avó da Li os visse, com o limoeiro dela a vergar-se ao peso dos seus frutos!) ou as sandálias em saldo a 230.00... Para não falar nos alhos a 7.60, carvalho!
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Mas não foi por aí que começámos o primeiro dia de estafa. Sim, porque há que aproveitar bem todos os minutos se queremos justificar tantos quilómetros percorridos. Afinal, para além da sorte de termos feito check in no parque de campismo no limite da hora e da sua capacidade, constatámos que está muito bem equipado e melhor situado, a menos de uma mão cheia de quilómetros de Saint-Paul de Vence, que nos recebe de manhãzinha.
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Em Sait-Paul e arredores o metro quadrado de terrinha paga-se com 10 mil eurecos! Façam as contas ao preço de uma casa de banho (e só o espaço que ocupa)! É o resultado de ter sido e ser uma cidade de pintores e artistas, um burgo medieval muito bem preservado e de ter um clima agradabilíssimo durante todo o ano. Para o turista remediado, duas horas são suficientes para percorrer as suas vielas empedradas, apreciar as janelas floridas e respirar fundo o ar discretamente perfumado  pela vegetação mediterrânica. O suficiente para sentir uma pontinha de inveja, passageira, que o nosso mundo não é este.
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E então descemos a Cannes, depois do almoço. Nunca pensei que o GPS me pudesse algum dia ser de tão grande ajuda, pois sempre me orientei bem por mapas e com o sol e as estrelas. Só este ano decidimos adquiri-lo, mais por vontade da Li (imaginem por quê)... Mas dou a mão à palmatória: em centros urbanos ou em zonas com muitas estradas e estradinhas, como foi o caso, o bicho pode ser bastante útil, mesmo que contrariemos (ou sintamos vontade de contrariar) a coitada da Catarina...
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Que dizer de Cannes, para além de cara? Cheia de vida, colorida; iates e iates de fazer cair o queixo; a cor do mar de um azul esverdeado inconfundível ("podias ter dito que a água era desta cor; podia ter trazido o biquini!", disse a Li, quase a faiscar!).
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Não, não vimos qualquer actor ou actriz a exibir a sua elegância ou tique de superioridade. Não precisávamos disso para ter a certeza de não desejarmos aqui voltar. Não nos interpretem mal: Cannes é agradável para um passeio de meio-dia, mas pouco mais do que isso; há centenas de outras paragens tão ou mais bonitas e muito mais simples e genuínas. Estivemos cá, gostámos, mas não o suficiente para voltar, pois a vida é curtinha e o mundo é muito muito grande.
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Por isso, ao fim da tarde, regressámos a Èze. Tínhamos grandes expectativas para a visita a esta vila medieval alcandorada sobre o mar. Podemos dizer que nos pareceu mais um museu que uma entidade viva: tudo está muito bem preservado e embelezado, mas viverá alguém aqui realmente? A maior parte das casas pareciam pertencer aos complexos das unidades hoteleiras ali instaladas ou utilizadas pela restauração e lojas de artesanato e moda. É impossível ficar indiferente à beleza das suas ruas e dos seus candeeiros, mas ficámos desapontados com o facto de não termos pontos de observação abertos sobre o mar e a costa, a não ser do restaurante de um hotel ou do jardim botânico instalado no topo da vila, com entrada a 5 euros por pessoa. Como forma de protesto, trocámos a visita por duas 1664, de 20 cl, a 3.50 cada: poupámos 3 euritos e refrescámos a alma.
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Ao descermos do Le Nid d'Aigle, fazendo contas ao centilitro da cerveja, registámos dois momentos agradáveis. O primeiro sintetiza tudo o que acabei de escrever sobre Èze: uma rua com 3 manequins vestidos de branco, a que não podiam faltar 3 pessoas reais também de branco, para que, tal como Èze, tudo parecesse perfeito. E o outro, para nos tirar um sorriso: uma montagem feliz de uma loja de artesanato.
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Regressámos para a nossa caldeirada de peixe, que compráramos em Cannes com carteira de estrela de cinema. Devia ter sido do preço, pois ficou deliciosa... O final perfeito para um dia em cheio, apesar de tudo.
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Nota do dia: comemos peixe com regularidade em Portugal, mas está tão baratinho e acessível - e é tão fresquinho! - que vamos comer ainda mais, antes que se acabe (perdoem-nos quem ache que está caro; é verdade que, para o que ganhamos, estará, mas é daquelas coisas que só valorizamos quando viajamos - é a nossa maior riqueza!).
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Conta-quilómetros: 1960 (151 nesta etapa)
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