sábado, 7 de abril de 2007

Parque Natural do Douro Internacional

Andarilho
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Na bagagem de regresso de um passeio de dois dias por terras transmontanas: três quilos de alheiras de Sendim, duas dezenas de garrafas de vinho da Adega Cooperativa de Valpaços e da Cooperativa Agrícola de Ribadouro, um folar de Páscoa de Bragança e matéria para várias notas de viagem.
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Miranda do Douro é uma das poucas cidades portuguesas que me faltava conhecer e cujo destino fui adiando sucessivamente por esta ou aquela razão. Por fim, numa daquelas escapadinhas decididas à última hora, fizemo-nos à estrada. Não regressei desiludido (o que, aliás, nunca me aconteceu em qualquer das minhas viagens, mesmo as mais atribuladas), mas esperava um pouco mais. O quê, propriamente, não sei dizer; talvez o tempo sombrio e frio que ainda se fazia sentir tenha arrefecido as expectativas; talvez a percepção de ser mais um entreposto comercial (famoso pelos atoalhados) do que um centro de tradições culturais realmente vivas; ou o reforço da convicção de que, do outro lado da fronteira, se vive a cultura e o lazer com o dobro da intensidade...
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Mas como em tudo na vida, devemos relembrar em primeiro lugar aquilo que nos agrada e faz feliz. De terras de Miranda do Douro retive o sabor fantástico da posta mirandesa assada na brasa, a imagem de vários burros da raça autóctone pelos campos (espero que a contrariar a tendência para a extinção), a simpatia das pessoas e, em especial, o cruzeiro ambiental pelas arribas do Douro Internacional no navio ecológico "Escua".
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O Parque Natural do Douro Internacional abarca um troço do rio absolutamente díspar daquele que é conhecido pela generalidade das pessoas - o Alto Douro vinhateiro, modelado em socalcos pela força do homem e, seguramente, uma das paisagens mais belas do mundo (abarca também, a sul, um troço de um seu afluente, o Águeda). O Douro Internacional é rocha; granito na vertical, escavado ao longo de milénios pela força das águas (agora contidas por barragens a montante e jusante).
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O cruzeiro ambiental parte do cais de embarque situado do lado de cá da fronteira, em Miranda do Douro, para norte, num trajecto de cerca de 5 quilómetros entre a barragem de Miranda do Douro e o Embalse de Castro. É explorado pela empresa espanhola Europarques Hispano-Lusos, com funcionários de ambos os países. O navio está equipado com motores ecológicos e insonorizados de modo a não perturbar o habitat circundante. O cruzeiro tem a duração de uma hora.
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Chegámos ao parque de estacionamento da Estação Biológica Internacional/ Cais de embarque vinte minutos antes da hora prevista para o primeiro dos dois cruzeiros diários regulares (11.00 e 16.00). Já estava esgotado. Por sorte, extraordinariamente, realizava-se outro ao meio-dia, para o qual conseguimos os respectivos bilhetes (fornecidos em português ou castelhano, consoante a nacionalidade do turista) pelo preço de 14 euros cada. A organização revelou-se impecável, desde a recepção no parque de estacionamento, ao atendimento na bilheteira, ao embarque vigiado e às explicações do guia durante o passeio.
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Das 120 pessoas a bordo, pasme-se, 116 eram espanholas!!! Dois casais lusos não tiveram outra alternativa senão escutar todas as explicações em castelhano. Não obstante, o guia teve sempre a preocupação de traduzir todos os termos relevantes para português. Para além disso, em cada "local de observação" era passado um texto audio em ambas as línguas. Não pude deixar de pensar no que estaria a passar pela mente dos nuestros hermanos presentes: um cruzeiro que parte de território português ter apenas cerca de 3% de clientes da respectiva nacionalidade! Mais tarde, perguntei a um dos "arrumadores" portugueses do parque de estacionamento se era costume ser assim; respondeu-me, com um sorriso revelador, que os portugueses eram em média apenas 10% de todos os utentes do serviço. Quem afirma que estamos a ser invadidos por espanhóis está a dar uma desculpa para a sua própria ineficiência, passividade ou simples falta de interesse ou vontade seja para o que for.
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Mas voltando ao cruzeiro: no seu decurso pudemos observar vários grifos, uma águia real, várias gralhas-de-bico-vermelho a voar aos pares (casais muito apaixonados e eternamente fiéis, segundo o simpático guia) e alguns patos reais machos (solteiros, pois segundo parece os casalinhos ausentaram-se para outras bandas por motivos de ordem familiar). Avistamentos feitos a grande distância, obviamente (exceptuando os coitados dos patos). Pudemos também ver dois ninhos de cegonha preta abandonados, várias azinheiras (uma delas centenária) nascidas da rocha, a Poça das Lontras e um punhado de formações rochosas caprichosas. Conhecemos também a ravina para onde eram lançados os burros mirandeses que já não davam serventia (hábito de outros tempos, felizmente), e que, se não acabassem no rio, eram alimento para grifos e abutres.
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À chegada, o guia chamou a atenção dos presentes para outro capricho da natureza na parede rochosa frontal ao cais de embarque, do lado espanhol: um líquen verde claro formava um "2" que se podia visualizar a grande distância, mesmo das muralhas do castelo de Miranda do Douro. Segundo uma tradição mirandesa, as senhoras solteiras que não conseguissem discernir o 2 desenhado na parede, assim acabariam; as casadas, era porque teriam maridos que as enganavam. Um pouco de folclore para agitar as senhoras presentes. Depois do desembarque, foi oferecido um Vinho do Porto de cortesia aos participantes (em copinho de plástico) e assistimos ainda a uma exibição didáctica com um bufo real.
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Uma hora muito bem passada. Para quem se dirija a estas terras, será sem dúvida o principal atractivo de visita. Pelo menos para os espanhóis. Sorte a deles.
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Notas: Podem ler mais alguns apontamentos sobre o Parque Natural do Douro Internacional no post "De Mazouco a Freixo de Espada à Cinta", de 4 de Janeiro, também na rubrica Andarilho.
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3 comentários:

ABRAHAM LÓPEZ MORENO disse...

La verdad es que tiene que ser precioso el Parque, que ilusión algún día visitarlo y como espero que ames la naturaleza, te invito a que conozcas, en España, el Parque Natural de la Sierra de Cazorla, Segura y Las Villas, es el mayor espacio protegido de España y el segundo de Europa con 214.300 Has. Situado al este y nordeste de la provincia de Jaén. Está declarado Reserva de la Biosfera por la UNESCO.
Estoy realizando un blog sobre Cazorla y su sierra y deseo compartirlo con todos vosotros.

La dirección es la siguiente:

http://panoramicacazorlense.blogspot.com/

Dejar en ella todos los comentarios que queráis.
Espero que os guste y la disfrutéis.

Un saludo.

Abraham

MANHENTE disse...

Gracias, Abraham.

Ya he visitado tu blog: muy bonita la Sierra de Cazorla y tu pueblo. Enhorabuena.

Haré más visitas: a tu blog y, con tiempo, al Parque Natural.

Un saludo,
Rui

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.