Começámos o dia um pouco mais tarde do que o habitual, bem dispostos, pois o tempo fantástico do dia anterior prometia continuar. A primeira tarefa do dia consistiu em... mudar a água ao bacalhau. Não, não se trata de uma variante do "mudar a água às azeitonas", mas sim do seu significado literal e tão tradicional na cozinha portuguesa: desde Le Mas d'Azil que trazemos uma fantástica posta de bacalhau, do graúdo, em demolha, dentro de um tupperware que colocamos na arca, pois é em água fresquinha que ele fica bem. Logo à noite virá com todos à nossa mesa. Ei-la, na primeira demolha, ainda tímida e, por efeito óptico, mais pequena do que realmente era e se tornou:
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O programa do dia consistia de um pequeno percurso, menos citadino, mais em contacto com a natureza, culminado, ao fim da tarde, com um mergulho refrescante na piscina do parque. Dirigimo-nos para as Gorges du Loup, a noroeste de Vence, mas andamos apenas meia-dúzia de quilómetros, pois somos atraídos, como para um precipício, pela vila de Tourrettes-sur-Loup:
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Que diferença para com Saint-Paul! Da mesma dimensão, com características semelhantes, mas muito mais "terrena": os locais a jogarem boules, em espaços delimitados para o efeito, entre duas fileiras de árvores; dois carteiros a distribuirem cartas, com familiaridade; os gatos na rua, toda deles, notoriamente bem amados (em muitas portas e janelas vimos recipientes para a comida e para a água); algum comércio destinado ao turismo, mas menos posh. Um mimo! Este sim, já poderia ser o nosso mundo.
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Não incomodem, p.f.! |
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Continuámos o passeio em direcção às Gorges du Loup, que não nos surpreendem. Visitámos umas quedas de água anunciadas à beira da estrada, com entrada cobrada a 1 euro; devíamos ter desconfiado: um casal francês olhava em volta, procurando-as, e para nós, que olhávamos em volta, procurando-as, e como o fio de água a descer quase em degraus por entre as rochas não convenceu, largaram um insuspeito Vive la France! Pouco depois fizemos um desvio em direcção a Gourdon, que havíamos avistado, lá em cima, isolada de tudo. Que descoberta! Que vistas sobre o Vallée du Loup, dos seus 760 metros de altitude (não parece muito, mas o Mediterrâneo está apenas a 10 quilómetros de distância em linha recta)!
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Gourdon é considerada uma das Plus Beaux Villages de France e é necessário estar lá para perceber por quê: tem o tamanho de uma aldeia pequena, debruçada sobre um vale vasto e rodeada por ciprestes, figueiras e carvalhos; não fosse o turismo e seria o local perfeito para quem quisesse isolar-se do mundo estando, ao mesmo tempo, perto de tudo. Regressámos à estrada, mas apenas por um quilómetro, pois já tínhamos escolhido o lugar para almoçarmos ao passarmos por aqui uma hora e meia antes: uma espécie de parque de lazer pouco equipado (com menos gente, por isso) e com vistas soberbas sobre o vale:
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O melão que me vêem a cortar na foto veio de Portugal; escolhi-o com carinho para que estivesse no ponto passada uma semana: que maravilha, meus amigos! E que bem soube aquele Nescafé preparado de manhã e ainda quentinho, naquele espaço tão tranquilo e paradisíaco! Foi um dos momentos mais agradáveis da viagem até ao momento; procuraríamos repeti-lo.
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De volta à estrada, encetámos o regresso ao parque, via Vence, que tínhamos deixado para o fim dos nossos dias na Provença. No trajecto, passámos por Coursegoules e pelo árido Col de Vence, que contrastava, por isso, com todo o percurso realizado pelas Gorges du Loup.
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Em Vence comprovámos o estatuto dos gatos na Provença, e nos Alpes-Maritimes em particular. Creio que alguns, até, de tão gordos, devem ser pagos a ração para preguiçarem por entre os souvenirs, que assim nos parecerão mais giros e menos caros. A cidade velha visita-se rapidamente e assemelha-se ao que já tínhamos visto em Saint-Paul, mas menos elitista. Notámos o mesmo cuidado com as janelas e varandas floridas, as portadas de cores diferentes de casa para casa, de andar para andar, tudo contribuindo para uma sensação de bem-estar e de savoir vivre. Visitámos a catedral, onde vimos um mosaico lindíssimo de Marc Chagall, junto à pia baptismal. Numa ruela próxima, fomos atraídos por uma peixaria e pelos vários petiscos expostos: "E se levássemos um pouco daquele polvo, para acompanhar o bacalhau?" Parecia estar temperado apenas com azeite e ervas da Provença; perguntei se tinha vinagre, de que não gosto, mas a simpatia do senhor ou o meu domíno fantástico do francês não foram suficientes para extrair uma conclusão. Daí que arriscássemos a provar cento e poucos gramas daquela especialidade por 5 euros e 52 cêntimos!
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Chegámos a tempo do tão ansiado mergulho na piscina. A água não é propriamente o nosso elemento, mas, com 30º graus, quem não gosta de refrescar a pele? E abriu-nos o apetite para o fantástico bacalhau com grão e batata cozidos, acompanhados de salada de tomate e pepino e das indispensáveis azeitonas; precedidos, claro, pelo tal polvo-numa-espécie-de-vinagrete!
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Nota do dia: com excepção dos casais mais idosos, é raro verem-se outros sem filhos; na verdade, as famílias francesas, belgas e holandesas (em particular estas) que vemos nos parques de campismo e pelos locais que visitamos, são constituídas por 2, 3 e 4 filhos, geralmente de idades muito próximas, provando que é possível sair com a canalha mesmo em situações aparentemente mais trabalhosas e menos confortáveis. Eles tomam conta uns dos outros!
Nota do dia: com excepção dos casais mais idosos, é raro verem-se outros sem filhos; na verdade, as famílias francesas, belgas e holandesas (em particular estas) que vemos nos parques de campismo e pelos locais que visitamos, são constituídas por 2, 3 e 4 filhos, geralmente de idades muito próximas, provando que é possível sair com a canalha mesmo em situações aparentemente mais trabalhosas e menos confortáveis. Eles tomam conta uns dos outros!
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Conta-quilómetros: 2037 (77 nesta etapa)
Conta-quilómetros: 2037 (77 nesta etapa)
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