quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Desviagens

Andarilho

Agosto de 2002. Convido seis bons amigos para uma voltinha a Espanha em automóvel, sem trajecto definido mas com três destinos de passagem desejados: Córdoba, Granada e Barcelona. Nos dias anteriores à partida, quatro deles vão chegando de duas ilhas dos Açores para se alojarem nas casas dos continentais. Momentos preparatórios de boa mesa, memórias para brindar e a antecipação de uma grande aventura.

Ponto de partida: Mogadouro, após um jantar simpático em casa da Esperança. Chegámos a Toledo pelas sete da manhã. Como o parque de campismo não aceitava acolhimentos antes do meio-dia, aproveitámos para dormir um soninho recontorcido no pouco espaço útil de ambos os automóveis. Não passou de tentativa. Pouco depois já alimentávamos a manhã com cafeína e percorríamos a belíssima Toledo com o afã dos viandantes à partida. Por entre o peso das olheiras, registei para sempre a beleza dos vitrais da catedral.

Dos três dias seguintes, em Córdoba e Granada, surgirão a seu tempo outras crónicas. O Bairro Judeu e a Mesquita-Catedral, em Córdoba, e o Albaicín e o Alhambra, em Granada, são pontos de passagem obrigatórios para qualquer viandante.

Direcção seguinte: Barcelona. Optámos por um trajecto pelo interior do país, para evitar o tráfego balnear da costa mediterrânica. Pela hora do almoço, parámos num hotel de 4 estrelas, junto à autoestrada A4, perto de Valdepeñas. Após comer qualquer coisa, prestávamo-nos a retomar a viagem quando deparámos com o vidro traseiro do lado direito do automóvel partido, assim como uma porta forçada na outra viatura. O descuido e o sentimento de segurança que o local inspirava levou-me a deixar uma Nikon no banco traseiro, por entre toda a parafernália de viagem que não cabia na bagageira. O que lamentei mais foram os 4 ou 5 rolos de fotografias já tiradas que com ela deram asas, enquanto mastigava deliciado um pedaço de tortilla. E um sentimento de perseguição, pois 4 meses antes havia partido - também por descuido - uma máquina fotográfica semelhante.

Segundo nos informou a polícia local, tivéramos azar, pois, sendo feriado no dia seguinte, muitos presidiários tinham obtido licença para estar com as famílias, o que todos os anos coincidia com um aumento pontual de incidentes no género. Mesmo sabendo que a possibilidade de recuperar o material fotográfico era mínima, os agentes de polícia que nos atenderam mostraram uma diligência fantástica, procurando durante mais de uma hora uma qualquer impressão digital suspeita no automóvel. Enquanto isto, discutíamos a hipótese de interromper as férias e regressar a casa de imediato. Era quinta-feira, véspera de feriado, pelo que não seria possível prosseguir viagem sem um dos vidros do automóvel durante os 3 ou 4 dias seguintes. Adiámos a decisão até encontrarmos um concessionário Toyota. Havia um na zona industrial de Valdepeñas.

Infelizmente, não dispunham de qualquer vidro em stock. Só na segunda-feira seguinte poderiam fazer a sua substituição, se chegasse a tempo vindo do armazém de Madrid. Provavelmente sensibilizado com o nosso ar destroçado, o funcionário que nos recebeu prestou-se a fazer uma chamada ao chefe... Finalmente, a boa notícia: iriam retirar um vidro de uma das viaturas em exposição. Enquanto isso, que estivéssemos à vontade para navegar na internet e tomar um café no espaço da recepção... Uma hora e meia depois e após um esforço tremendo por parte de três mecânicos (o suporte do vidro não era exactamente igual, pois a versão do automóvel já não era a mesma) tínhamos o automóvel à disposição - por uns impensáveis 40 euros! E ainda nos ofereceram uma garrafa de vinho tinto local!

O profissionalismo e boa vontade que nos tocou observar foram um bom presságio para uns dias magníficos, para um resto de viagem sem mais desvios. E muitas histórias para contar.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Boa mesa

Vianda
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Não é coincidência os últimos textos deste blogue versarem a boa mesa portuguesa. A quadra assim o exige.
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A meio da tarde de ontem, e após saborear 8 bolinhos de bacalhau morninhos e estaladiços e uma rabanada fresquinha, a minha esposa convocou-me à farmácia para um check-up ao meu colesterol malandro. Antecipava um resultado absolutamente assustador. Todavia, os 240 mg/ dl ficaram apenas na média preocupante dos últimos tempos...
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Na tarde de hoje, de regresso do almoço de ano novo, composto pela habitual farrapada velha e um apetitoso cabrito estufado (mais as doçarias sobrantes da noite velha: 3 rabanadas da minha mãe de sobremesa!), decidimos, por unanimidade, que o jantar de hoje seria uma canjinha de galinha caseira e, caso nos apetecesse, um pouco de pão com presunto ou queijo...
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Como a galinha caseira demora a cozer e a fominha já apertava, antecipámos os outros acepipes: um majestoso queijo de ovelha seco de Celorico da Beira (sem rótulo, e por isso - e ainda bem -, certamente desconhecido da ASAE), presunto da Casa Marinel, de Lalim, Lamego, e as melhores azeitonas que a minha boca já teve o prazer de degustar: curtidas com ervas aromáticas pela APPACDM de Elvas. A acompanhar, o pão que se pôde arranjar num dia de folgança. E claro, um madurinho do Dão: Quinta de Cabriz.
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Pode ser que a canjinha tenha compensado a gulodice... Na verdade, daria 10 anos da minha vida (dos 100 aos 110, pode ser?) ao colesterol por inúmeros jantares como o de hoje.
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Feliz 2008!
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