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Ontem, domingo, fiz quase 400 quilómetros (ida e volta) para ajudar a minha mãe na mudança de casa. Aos 61 anos, tomou a decisão de vender a casinha que tanta canseira lhe deu para ficar mais perto dos filhos.
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Já tinha apalavrado com uma empresa de mudanças da terra o transporte do seu bric-a-brac por 400 euros. Entretanto, um amigo arranjou-lhe outro amigo (aparentemente, também com licença de transporte) que lhe faria o serviço por metade do preço mais IVA. O primeiro, especializado na matéria, queria fazer o transporte sem recibo. "São 30 contos que poupo, filho", dizia-me ela ao telefone anteontem. "Dá-me para encher o frigorífico." Disse-lhe logo que achava mal, pois teríamos que carregar e descarregar toda a sua tralha; para além de achar que o barato sai caro. Mas são fracos os argumentos para quem vive com os tostões contados.
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Ás 4 da tarde (já levávamos nós umas horas de trabalho de desmontar, encaixar, resmungar, desaparafusar, empilhar, resmungar...), pontual, chega o camiãozinho do amigo do amigo da minha mãe - daqueles com armação em ferro e cobertura em toldo. O meu irmão deitou as mãos à cabeça, sem parar de resmungar, agora em tom redobrado. Os meus olhos faiscavam... Isto foi antes de depararmos com o que estava escrito nas traseiras da trotinete: Transporte de Animais Vivos.
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Não é anedota.
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Como não havia sinal de cheiro a esterco e o inefável veículo estava limpo, e não havendo nada a fazer, lá começámos a tentar meter o elefante na banheira. As artes do povo são infinitas: coube quase tudo e o sujeito prestador do serviço não podia ter sido mais prestável e menos simpático. Hoje, um pouco depois de os galos cantarem às estrelas (sim, ainda se ouvem estes bicharocos em pleno tecido urbano da Vila de Arcos de Valdevez), lá me porei a pé para fazer mais umas (agora menos) dezenas de quilómetros para ajudar a fazer a outra metade do serviço. Não sei se terei costas para tal, mas mãe, a quanto obrigas.
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Voltarei a este episódio para alguns apontamentos existenciais...
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