terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Alentejanices no D. José Pinhão, em Constância

Aqui Bem Se Come
.

.
Vindos de uns dias prazenteiros no Alto Alentejo e sendo horas de aconchegar o estômago, acostámos à belíssima vila de Constância, debruçada em escada sobre um Tejo diminuído pela seca. Em frente, a relembrar-nos que no mundo moderno a beleza bucólica tem sempre um contraponto, uma celulose horrenda expelia o seu fel gasoso. Desviámos o olhar, não fosse estragar-nos o repasto reconfortante que antecipávamos.
.
Indagado um transeunte nativo sobre onde degustar as melhores viandas, recebemos a indicação do D. José Pinhão, a escassos metros da Praça do Pelourinho (Praça Alexandre Herculano), como sendo um restaurante de "média-alta". Esperançados de que a adjectivação não tivesse conotações de classe mas apenas de substância, aligeirámo-nos ao destino.
.
O D. José Pinhão - nome de um antigo proprietário do imóvel - ocupa o piso térreo e o primeiro andar de um edifício do século dezoito. À entrada, do lado direito, em bom prenúncio, recebe-nos uma enorme pia de casa de banho em granito "escavado", datada de 1854. Nesse piso térreo deparamos com uma zona de "petiscos", balcão e mesa única em madeira robusta; e um vislumbre de cozinha asseada. A sala de refeições fica no primeiro andar e acolhe-nos com uma decoração rústica irrepreensível: uma sala alta a lembrar um celeiro, em que predomina a madeira cuidada de móveis antigos; atoalhados que prometem deleite.
.
Queijinho de ovelha seco e azeitonas com ervas abriram as hostilidades, irmanados de pão regional alentejano excepcional. Não provámos a cenoura de coentrada que nos colocaram sobre a mesa, o que lamentámos a posteriori. Para arbitrar a contenda, convocou-se um Casal da Coelheira tinto (meia garrafinha, pois ainda nos restava um compromisso de 3 centenas de quilómetros com a estrada). O "quer que aqueça um pouco o vinho?" do empregado de mesa fez jus à sua apresentação impecável.
.
Seguiram-se sopa de cação e carne de porco à alentejana, cada uma das doses a partilhar entre os comensais. A sopa de cação vinha um pouco espessa, mas deliciosa. Ao contrário do que costumo fazer, o pão já havia sido regado pelo caldo quando chegou à mesa em terrina de barro (mas mantinha-se íntegro, a provar a sua qualidade). A carne de porco estava apuradíssima, cortejada de batatinhas fritas em pedaços, como manda a lei.
.
Para sobremesa, escolhemos uma bavarois de frutos silvestres: extraordinária. Para quem não é um indefectível amante de doces, esta palavra não será suspeita.
.
O café com que se rematou o repasto era tão originalmente bom que sentimo-nos obrigados a perguntar de que marca era, pois foi servido numa chávena em desuso, rasa, e livre de tiques publicitários. Delta, afinal. Pois bem, ficaram bem justificados os vinte e oito euros e vinte cinco cêntimos. Acaso venhamos a passar por esta bela terra em horas de viandar, saberemos que aqui não vimos ao engano.
.
À mesa: Liliana e Rui
.
Serviço: muito bom
Ambiente e Decoração: excelente
Higiene: muito bom
Preço: muito bom
Avaliação geral: 9/10

1 comentário:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.